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Mãe Bernadete: três suspeitos presos pelo assassinato

Quarto envolvido é procurado. Polícia baiana não concluiu sobre a razão para a morte da líder quilombola, apesar de um dos detidos ter confessado a motivação para o crime, segundo secretário de Segurança

A polícia da Bahia prendeu três suspeitos de envolvimento no assassinato da líder quilombola Bernadete Pacífico, a Mãe Bernadete. A informação foi divulgada, ontem, pelo secretário de Segurança do estado, Marcelo Werner. Entre os detidos, um é apontado como executor do crime e outro de guardar as armas utilizadas no assassinato, enquanto que o terceiro estava com os celulares da ialorixá — e foi preso por receptação. A polícia procura por um quarto homem, ainda foragido, que estaria ligado à execução de Bernadete.

O suspeito de ser um dos executores da líder quilombola foi preso, sexta-feira, no município de Araçás, a 105km de Salvador, e confessou ter cometido o assassinato. "Ele fala o motivo, mas precisamos saber se isso condiz com a verdade", observou Marcelo Werner.

Segundo o secretário, os suspeitos fazem parte de uma quadrilha de traficantes de drogas em Simões Filho, na região metropolitana de Salvador, onde fica o quilombo que era dirigido por Mãe Bernadete. A identidade dos presos não foi divulgada para não prejudicar as investigações, que ainda não chegaram à conclusão dos motivos que levaram ao homicídio.

"As forças de segurança estão agindo com todo o rigor na apuração dos fatos. Não mediremos esforços para que a justiça seja feita nesse caso tão triste", garantiu Werner.

Na sexta-feira, foram apreendidas duas pistolas que teriam sido usadas no crime. A polícia encontrou as armas, que estavam com munições e três carregadores, em uma oficina mecânica na comunidade de Pitanga de Palmares, na zona rural de Simões Filho — local próximo ao quilombo de Mãe Bernadete. De acordo com a perícia, são compatíveis com os projéteis encontrados na cena do crime. O mecânico que guardava os objetos foi preso por porte ilegal de arma de fogo.

A delegada-geral da Polícia Civil, Heloísa Brito, disse ainda que foram apreendidos aparelhos celulares e realizadas diversas oitivas para elucidar como teria ocorrido o assassinato. "Realizamos 64 oitivas. Foram 21 aparelhos telefônicos apreendidos e 19 medidas cautelares solicitadas. Conseguimos avançar bem, numa articulação com todos os departamentos da Polícia Civil e, principalmente, uma parceria com o Poder Judiciário e com o Ministério Público", detalhou.

Morta em casa

Mãe Bernadete foi assassinada em 17 de agosto, dentro de casa, no Quilombo Pitanga dos Palmares, com mais de 10 tiros. Ela era uma voz ativa na luta pela preservação da cultura negra ancestral e dos direitos das comunidades afrodescendentes. Atuava também como coordenadora da Coordenação Nacional de Articulação de Quilombos (Conaq).

Na noite do crime, dois homens usando capacetes de motociclista invadiram a casa de Mãe Bernadete, fizeram os parentes dela reféns e a executaram. O motivo do homicídio pode ter relação com a atuação em defesa do quilombo e das terras que ocupava.

Para parentes da ialorixá e para o advogado David Mendes, que representa a família, o crime foi premeditado e foi praticado a mando de alguém. Sobretudo porque, em 2017, um dos filhos de Mãe Bernadete, Flávio Gabriel Pacífico, também foi assassinado a tiros. "Foi apresentada apenas parte dos executores do crime, porém, nada disse acerca dos respectivos mandantes", disse Mendes.

Após o homicídio, a família da Mãe Bernadete foi tirada do quilombo onde vivia como medida de proteção. As investigações sobre o caso de Mãe Bernadete e do filho dela estão sendo acompanhadas pelo Observatório das Causas de Grande Repercussão, formado pelo Conselho Nacional de Justiça (CNJ) e pelo Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP).

Poucas semanas antes de morrer, num encontro com a presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Rosa Weber, Mãe Bernadete reconheceu que tinha medo de ser assassinada. No II Seminário sobre Questões Raciais no Poder Judiciário, realizado, ontem, na sede do CNJ, a ministra criticou o Estado brasileiro.

"Não esqueceremos do recente e brutal assassinato da liderança quilombola baiana Bernadete Pacífico. É um exemplo candente de que o Estado brasileiro falhou e de que falhamos todos nós, cotidianamente, na defesa da vida, da integridade, dos valores e dos direitos da população negra", frisou.

Detido suspeito de ferir músico

Um suspeito de efetuar o disparo que feriu gravemente o baixista Rinaldo Amaral, o Mingau, da banda Ultraje a Rigor, foi preso no mesmo bairro onde ocorreu o crime, em Paraty (RJ). De acordo com informações da polícia, o homem foi encontrado com uma pistola .40, dois carregadores, estojo para a arma, projéteis do mesmo calibre e drogas. Outros três envolvidos no homicídio são investigados e estão foragidos. O músico, de 56 anos, foi baleado na cabeça enquanto passava pela Ilha das Cobras, no município do litoral sul fluminense. Segundo os policiais, essa região é dominada pelo tráfico e o ponto onde Mingau foi ferido é conhecido por ser um local de compra e venda de drogas.