São Paulo — Que tal trazer as compras do supermercado sem ter o trabalho de levar os produtos do carro até a dispensa? No Brasil, não se trata de um sonho distante. O Centro de Excelência em Inteligência Artificial (Ceia) da Universidade Federal de Goiás (UFG) desenvolveu um veículo autônomo elétrico, capaz de fazer essas e outras atividades relacionadas a robótica urbana.
Produto totalmente brasileiro, o robô já foi exportado para o Canadá, Irlanda, Portugal e Malásia, para prestar diferentes serviços, a partir das demandas de cada país. No Canadá, por exemplo, ele está sendo utilizado para fazer inspeção de vias com o objetivo de detectar problemas nas calçadas da cidade de Toronto. Na Irlanda, ele faz entregas de itens no campo de golfe.
De acordo com Anderson Soares, diretor do Ceia, o projeto foi criado pensando em atender as necessidades brasileiras, utilizando a inteligência artificial na logística de primeira milha e de última milha. “Para quem mora em condômino fechado, horizontal, vertical ou mesmo em prédios, ele é muito útil e pode ser usado em diversos tipos de aplicação. Inclusive, consegue acionar o elevador”, conta Soares.
O robô foi desenvolvido graças ao financiamento da Associação Brasileira de Pesquisa e Inovação Industrial (Embrapii), contando com a parceria da Synkar — startup brasileira-canadense, focada em robótica e veículos autônomos. A frota atual conta com 25 veículos. Para o próximo ano, no entanto, está prevista a fabricação de 200 robôs, que atenderão encomendas de clientes brasileiros e estrangeiros.
“No exterior, o projeto busca explorar mercados adjacentes ao do Brasil. São modelos de negócios comuns na utilização de robôs como serviços, como campos de golfe e universidades. No Brasil, o projeto foca ambientes privados, como como condomínios, hospitais e hotéis”, conta Lucas Assis, diretor de tecnologia da Synkar Autonomous, empresa parceira do Ceia no desenvolvimento do veículo.
André de Mari Barros, pesquisador do Ceia e líder técnico na Synkar conta que a parceria com Embrapii inclui quatro projetos, todos na área de logística urbana, com investimentos totais de R$ 4 milhões. o desenvolvimento de um robô de monitoramento para condomínios está no programa Embrapii 1.
O Embrapii 2 prevê o desenvolvimento e construção de banco de dados de imagens e de algoritmos de visão computacional para detecção de objetos em cenas urbanas para veículos. O Embrapii 3 pesquisa o sensoriamento massivo de dados para navegação autônoma em cenários de mobilidade urbana no contexto brasileiro.
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E o Embrapii 4 investiga técnicas de percepção e localização no contexto de veículos autônomos em território brasileiro. “Nossos projetos têm como base o chamado tríplice hélice, em que empresa, academia e agência financiadora trabalham juntas no desenvolvimento de produtos inovadores. Sem essa parceria, não é possível deslanchar”, comenta o pesquisador, ao falar dos desafios da inovação no Brasil.
Outro desafio, diz ele, está na legislação, tanto no Brasil quanto no exterior. “Não existe no Brasil, por exemplo, uma legislação que permita a circulação desse tipo de robô em vias públicas, como calçadas. Por isso, por enquanto, ele tem sido usado apenas em ambientes privado”, comenta Barros.
O invento está exposto no stand da Embrapii no 10º Congresso Internacional de Inovação, promovido pela Confederação Nacional da Industria (CNI) e pelo Sebrae. O evento teve início ontem e termina nesta quinta-feira (28), no São Paulo Expo, na capital paulista.
*A repórter viajou a convite da CNI
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