Corpos de um casal de indígenas foram encontrados mortos e carbonizados, nesta segunda-feira (18/9), na aldeia Guassuty, em Aral Moreira, no Mato Grosso do Sul (MS). Tratam-se de Nhandesy Sebastiana, de 92 anos, e Nhanderu Rufino, 55. Eles eram indígenas da etnia guarani-kaiowá.
Sebastiana era uma líder religiosa. Imagens circulam pelas redes sociais e mostram os corpos carbonizados e o local onde houve a morte do casal.
Segundo relatos de lideranças indígenas nas redes sociais, Sebastiana e Rufino foram assassinados por grupos de religiões "neopetencostais".
Mais um crime de racismo e intolerância religiosa contra os rezadores tradicionais Guarani Kaiowá, Nhandesy Sebastiana e seu companheiro Nhanderu Rufino foram QUEIMADOS VIVOS em Mato Grosso do Sul!
— MARCO TEMPORAL NÃO (@Karibuxi) September 18, 2023
Sebastiana e Rufino foram mortos em casa. Cenas fortes:
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Em nota enviada ao Correio, a assessoria de comunicação da Polícia Civil do MS afirmou que, em operação conjunta com a Polícia Militar do Mato Grosso do Sul, prendeu um homem suspeito de incendiar e matar os idosos. O rapaz, segundo a polícia Civil, também é indígena, e tem 26 anos.
"A liderança da Aldeia [Guassuty] informou sobre um suspeito, um indígena de 26 anos, que já vinha ameaçando as vítimas devido a uma briga familiar", diz a nota.
Intolerância religiosa
As investigações da Polícia Civil aponta desavenças familiares como motivos do assassinato, uma linha diferente do apontado por indígenas nas redes sociais, que afirmam que o motivo do assassinato foi causado por intolerância religiosa.
Essa alegação é corroborada pela Kuñangue Aty Guasu (A Grande Assembleia das Mulheres Kaiowá e Guarani de MS). Por meio do perfil oficial no Instagram, a organização publicou que a líder religiosa Nhandesy Sebastiana vinha sofrendo ameaças. Segundo a Kuñangue Aty Guasu, a senhora era chamada pejorativamente de "feiticeira".
O Correio contatou a Grande Assembleia das Mulheres Kaiowá e Guarani de MS para solicitar mais detalhes sobre essa alegação e aguarda respostas.
Outro órgão consultado foi a Coordenação Regional da Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai) de Ponta Porã, responsável pelos apoio à aldeia de Guassuty, foi questionado sobre possíveis registros de intolerância religiosa no crime contra o casal de idosos. O órgão, no entanto, não respondeu aos contatos até a publicação desta matéria.
Polícia Federal investiga o caso
A morte do casal de indígenas guarani-kaiowá será investigada pela Polícia Federal. Essa informação foi passada pela ministra dos Povos Indígenas, Sonia Guajajara, que usou as redes sociais para repudiar o caso.
"Recebemos com pesar e indignação a notícia de um casal de anciões indígenas, da etnia Guarani Kaiowá, que foram encontrados mortos na madrugada desta segunda-feira (18) na aldeia Guassuty, em Aral Moreira, Mato Grosso do Sul", lamentou a ministra. " O @minpovosindigenas imediatamente oficiou a Polícia Federal de Ponta Porã para investigar o caso", completou.
A pasta divulgou uma nota para comunicar que as investigações estarão a cargo da PF.
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