CAPITAL DO AMENDOIM

93% do amendoim brasileiro é cultivado em SP; conheça a produção

Cidade do interior de SP é conhecida como capital do amendoim. O Correio conheceu plantação, cooperativa e laboratório de pesquisa da leguminosa

Amendoim produzido na cooperativa Coplana, em Jaboticabal, em diversas formas  -  (crédito: Mayara Souto/D.A. Pres)
Amendoim produzido na cooperativa Coplana, em Jaboticabal, em diversas formas - (crédito: Mayara Souto/D.A. Pres)
Mayara Souto
postado em 13/09/2023 22:53 / atualizado em 13/09/2023 23:03

Jaboticabal (SP) — O amendoim é um dos produtos em destaque no mercado internacional e o Brasil é o 5º maior exportador do mundo na categoria. Há pouco mais de duas décadas, a leguminosa vem ganhando destaque na agricultura e economia do país — principalmente, no interior do estado de São Paulo. Nesta quarta-feira (13/9) celebra-se o Dia do Amendoim e o Correio conheceu de perto todo processo de produção deste alimento em Jaboticabal, conhecida como a capital da leguminosa.

Segundo a Associação Brasileira da Indústria de Chocolates, Amendoim e Balas (Abicab), o estado de São Paulo concentra 93% da produção de amendoim de todo país, sendo referência na área. A 343 quilômetros da capital paulista, está localizada Jaboticabal, uma cidade com pouco mais de 70 mil habitantes. Apesar do nome homenagear uma fruta, jaboticaba, o local é conhecido mesmo pelo amendoim.

Em 2018, a Assembleia Legislativa de São Paulo decidiu que ali seria a “capital do amendoim”. E não é para menos: nos restaurantes é possível experimentar bolinho de frango com amendoim, arroz com uva passa e amendoim, massa ao molho pesto e amendoim, pé de moleque, brownie com amendoim, cachaças, licores... enfim, uma variedade imensa para todos os gostos.

É possível perceber que os moradores reconhecem, com orgulho, o título do município. Walter Luiz de Souza, 63 anos, agricultor, cresceu acompanhando o pai plantar cana de açúcar e amendoim na cidade. As duas produções são o que se chama de cultura de rotação – o amendoim tem o papel de renovar e adubar a terra para o posterior plantio da cana.

“O amendoim lá atrás era muito diferente, menos consumo, mais interno. Dos anos 2000 para cá o amendoim começou a criar mercado e pegar mercado mundial” conta Walter, que atualmente gerencia a fazenda da família junto a dois irmãos.

Ainda de acordo com o agricultor, nos anos anteriores, a produção era bem mais difícil e artesanal. Cada grão era retirado, uma a um, da planta, a secagem dependia muito do clima e, por esse motivo, o grão ficava sujeito a diversos fungos.

A mão de obra também era elevada, para 100 hectares de plantação eram necessárias mais de 500 pessoas trabalhando. Atualmente, com os maquinários e o auxílio da cooperativa agroindustrial Coplana na produção, um campo de igual tamanho precisa de apenas 10 pessoas trabalhando.

Junto à cooperativa há também um amparo na pesquisa científica da Universidade Estadual Paulistana (Unesp), que realiza no campus da cidade pesquisas para melhorar o manejo dos produtores rurais com o amendoim.

O professor doutor Pedro Luiz Alves estuda biologia e manejo de plantas daninhas, entre as pesquisas estão maneiras de diminuir o ciclo de produção do amendoim e também testes de herbicidas que podem ser utilizados dentro das exigências europeias.

“O amendoim alguns anos atrás era uma cultura secundária e vem ganhando importância ano a ano. Isso tem atraído mais pesquisas, tanto no âmbito da viabilidade econômica (ser mais rápido e gerar mais renda), quanto de testar novos cultivares (tipos de grãos)”, comenta.

De acordo com ele, há uma pesquisa de três anos que está em fase de ser finalizada que analisa se três herbicidas de outras culturas podem ser usados no cultivo de amendoim. “A gente está estudando aqui no campo qual seria a época da aplicação deles ao longo do ciclo. A intenção é passar para o produtor até quando ele pode aplicar esses produtos, se é que pode”, explica.

Com um aparato agrícola, tecnológico e científico, a produção de amendoim está cada vez maior e mais especializada. Há previsão de que, neste ano, o país supere a produção do ano anterior, de 283 mil toneladas e passe de 300 mil toneladas.

Mesmo com todo consumo brasileiro de paçoca, snacks de amendoim salgados, pasta de amendoim, a maior parte do que é produzido vai para fora do país. De acordo com o presidente da Coplana, Bruno Rangel, o Brasil consome atualmente 1,2 kg por habitante/ano, na China, por exemplo, esse número é 12 kg, ou seja, 10 vezes mais.

Ainda há muita paçoquinha para chegarmos na média do país oriental. Mas a verdade é que, no interior de São Paulo, ou na capital da China, você pode estar comendo um amendoim feito em Jaboticabal. O agricultor Walter não cansa de enaltecer sua cidade: “Foi a primeira região que começou o amendoim, mecanizou o amendoim, a cooperativa foi uma das primeiras”.

A jornalista viajou para o interior de São Paulo a convite da Associação Brasileira da Indústria de Chocolates, Amendoim e Balas (Abicab). O roteiro contou com visitas a indústrias em Jaboticabal, Borborema e Ribeirão Preto.

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