No Dia Nacional do Cerrado, celebrado nesta segunda-feira (11/9), há pouco o que se comemorar. O bioma, que está presente em 13 estados e é o segundo maior da América do Sul, é o mais ameaçado do Brasil. De acordo com dados do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) são 300 espécies em "risco de extinção", sendo que 64 delas estão "criticamente em perigo" e 100 em "perigo".
O Cerrado é a savana com a maior biodiversidade do mundo, abriga 5% da diversidade biológica do planeta, são cerca de 30 espécies por metro quadrado. Mas, tem sofrido com o desmatamento. Segundo o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), entre agosto de 2022 e julho de 2023, os alertas de desmatamento no Cerrado cresceram 16,5% em comparação com o ano anterior: foram 6.359 km² de vegetação destruída. A estimativa é que quase 50% de todo o bioma já foi desmatado.
Segundo Marcos Woortmann, cientista político, mestre em Direitos Humanos pela Universidade de Brasília (UnB) e coordenador de políticas socioambientais do Instituto Democracia e Sustentabilidade (IDS), o Cerrado sofre por uma falta de legislação que proteja o bioma. Hoje, enquanto na Amazônia há um limite de desmatamento máximo em áreas rurais de 20%, no Cerrado é ao contrário, o limite máximo é de 80%. “Isso gera uma cultura de aprovar os licenciamentos praticamente sempre até o limite daquilo que é possível”, explica o professor.
Legislação no socorro ao Cerrado
Hoje, há no Senado um Projeto de Lei que tenta mudar o panorama de desmatamento do Cerrado. O PL, de autoria do senador Jorge Kajuru (PSB/GO), estabelece o mínimo de 35% de Reserva Legal em propriedades rurais no Cerrado. Para Marcos, mudar a legislação é um dos pontos principais para diminuir o desmatamento. “A questão não é se ele está mais ameaçado. O Cerrado neste momento está na alça de mira do agronegócio. Existe todo um modelo geopolítico que é baseado no desmatamento do Cerrado”, enfatiza.
Segundo o Inpe, nos últimos anos, cerca de 75% do desmatamento se concentrou no chamado Cinturão Agrícola do Matopiba (Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia), onde ocorreu uma forte expansão agrícola a partir dos anos 1980.
Além disso, Marcos Woortmann ressalta que é necessário que a população entenda a importância do Cerrado para que haja um esforço para preservá-lo. “É preciso entender o papel do Cerrado, que o grande público conheça e valorize o bioma. O Cerrado era visto como um obstáculo no solo para poder avançar com a agricultura e pastagem, então é necessário um processo educativo. No momento que o Cerrado for valorizado, eu creio que haverá uma grande mudança”, destaca.
“Berço das águas”
Apesar do clima no Cerrado ser marcado pelo inverno seco, o bioma é conhecido como o “Berço das águas” ou “Caixa d’água do Brasil”. Isso porque é nele que nasce oito das 12 principais bacias hidrográficas do país. Por isso, explica Marcos, os benefícios de preservar o Cerrado vão além de para quem vive no bioma. É uma questão de “segurança hídrica”.
E de acordo com o professor, as consequências da não preservação do meio ambiente já estão sendo sentidas. “Estamos vendo a redução de chuvas e ondas de calor em diversos lugares”, lembra. O observatório europeu Copernicus já afirmou que 2023 será o ano mais quente da história mundial.
Brasília e o Cerrado
De acordo com o Instituto Cerrados, 88% do DF está em unidades de conservação. No entanto, em quase metade delas é permitida a intervenção humana. São 86 unidades de conservação geridas pelo Instituto Brasília Ambiental (Ibram) e quatro geridas pelo Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio). Uma das mais importantes é o Parque Nacional de Brasília, que concentra de 22% a 29% da água consumida pelos brasilienses.
Já o Jardim Botânico, tem cerca 5 mil hectares, sendo que só 500 deles são destinados à visitação. Lá está a Estação Ecológica Jardim Botânico de Brasília, com 1.337 espécies típicas de flora e 81 de mamíferos, 277 de aves e 90 de anfíbios e répteis.
Espécies ameaçadas de extinção
De acordo com o Icmbio, pelo menos 624 espécies da flora estão ameaçadas de extinção no Cerrado. Além disso, das 4874 espécies da fauna monitoradas, 64 estão "criticamente em risco", 100 estão em "perigo", 142 estão "vulneráveis" e 73 "quase amassadas". Entre as espécies em risco estão o lobo-guará, a jaguatirica e o veado-campeiro.
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