Pela primeira vez, em 29 anos, o tradicional desfile cívico-militar militar de Brasília não contou com a incômoda presença dos chamados "excluídos da sociedade": pobres, pretos, sem-teto, indígenas, que juntos, desde 1995, fazem a marcha do Grito dos Excluídos. Os mesmos que, no dia primeiro de janeiro, subiram a rampa do Palácio do Planalto ao lado de Luiz Inácio Lula da Silva, para passar a faixa presidencial.
Enquanto centenas de cidades brasileiras realizaram as manifestações de rua, o Distrito Federal optou por realizar atividades silenciosas, fechadas, em paróquias ou centros de atividades, com discussão entre a própria liderança, sobre o tema deste ano, "Você tem fome e sede de quê?".
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"O Grito dos Excluídos existe para mostrar que o Brasil não é feito só de cavalos, tanques e meninos bonitos da escola. O Brasil são também os excluídos e seria muito bom se eles participassem também do desfile. São excluídos dos desfiles anuais como são excluídos das decisões políticas do país", observa Luiz Bassegio, um dos criadores da manifestação.
Uma das capitais que mais concentraram manifestantes foi Salvador, que lidera os índices de violência no país. Com faixas e cartazes, os militantes pediram justiça pelo assassinato de Bernadete Pacífico, ialorixá e líder quilombola assassinada no mês passado.
A violência também foi o principal foco da manifestação no Rio de Janeiro. Fátima Pinho, uma das fundadoras do Movimento Mães de Manguinhos, carregou uma faixa com a foto do filho dela, Paulo Roberto Pinho de Menezes, assassinado na comunidade em 2013, aos 18 anos. Na faixa havia ainda fotos de outros jovens mortos.
"Não haverá independência e soberania enquanto o Estado matar a juventude pobre e negra nas favelas. Favela e periferia não são territórios inimigos", disse o deputado federal Tarcísio Motta (Psol-RJ), no carro de som.
De acordo com Gilberto Portes, integrante da coordenação nacional do Grito, representando Brasília, existia um temor de que radicais bolsonaristas promovessem manifestações ao estilo 8 de janeiro, e a organização do grupo preferiu evitar confrontos. "O 8 de janeiro foi um trauma. Como o Grito dos Excluídos sempre foi uma manifestação pacífica, preferimos não participar do desfile, para não sermos provocados, nem confundidos".
Criado em 1995, o Grito dos Excluídos consta do Documento 56 da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), como uma atividade oficial das suas pastorais sociais, e deve ser estimulado em todas as dioceses do país. Mas, desde o início, conta com a participação de vários movimentos sociais, como a Central de Movimentos Populares (CMP). "O grito surgiu porque tinha muita gente que não tinha nem voz nem vez", recordou Bessegio.
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