Saúde Pública

Brasil registrou cinco casos de raiva humana em 2022 e dois neste ano

Infecções aumentaram nos últimos anos e preocupam o Ministério da Saúde. Mas os números estão cada vez mais distantes do cenário da década de 1990. Há esperança de erradicação da doença, que é altamente letal

Governo recomenda às pessoas que tiveram algum tipo de contato com animais suspeitos que procurem atendimento médico rapidamente -  (crédito: Fhemig/divulgação)
Governo recomenda às pessoas que tiveram algum tipo de contato com animais suspeitos que procurem atendimento médico rapidamente - (crédito: Fhemig/divulgação)
Renato Souza
postado em 06/09/2023 18:12

Dados do Ministério da Saúde apontam que o Brasil registrou cinco casos confirmados de raiva humana em 2022. Neste ano, até agora, foram dois registros. A preocupação com a doença ganhou força após um cão testar positivo para o vírus em São Paulo, na semana passada. Foi a primeira infecção desse tipo registrada na região desde 1997.

De acordo com os dados solicitados pelo Correio ao ministério, nenhum dos pacientes que desenvolveu a doença conseguiu sobreviver. No entanto, de acordo com a pasta, o país está próximo de erradicar a doença entre a população em razão da campanha de vacinação que ocorre nos estados e municípios.

Dos cinco casos confirmados no ano passado, quatro foram notificados em uma comunidade indígena no município de Bertópolis (MG), sendo dois casos de jovens entre 10 e 15 anos de idade e dois em crianças menores de 10 anos. Também foi registrado um caso no Distrito Federal, de um adolescente, morador de Sobradinho. 

 

As infecções apresentam curva de crescimento. Em 2021, foi registrado apenas um caso, e no ano seguinte, dois. No entanto, os números ainda estão longe dos índices das décadas anteriores. Em 1990, foram contabilizados 50 casos. No mundo, até os dias atuais, foram 70 mil infecções, em que apenas cinco pessoas sobreviveram, entre elas, dois brasileiros que, até hoje, sofrem com graves sequelas de saúde.

De acordo com o Ministério da Saúde, a taxa de mortalidade de raiva humana no ano passado foi de 0,00246/100 mil habitantes. Nenhum caso de raiva humana foi registrado em pessoas que fizeram uso de soro e vacina em tempo adequado e oportuno. O Brasil registra cerca de 650 mil atendimentos antirrábicos ao ano.

O governo recomenda que pessoas que tiveram algum tipo de exposição procurem atendimento médico com urgência. "É muito importante orientar a população, a qualquer contato com cão ou gato, morcegos ou mamíferos silvestres (cachorro do mato, saguis etc), para que procure imediatamente o posto de saúde para avaliação quanto à necessidade de imunoprofilaxia adequada e oportuna", destaca o texto da pasta.

Caso procure atendimento no tempo adequado, é possível impedir o desenvolvimento da doença. A vacina aplicada em cães e gatos protege por mais de um ano, mas a orientação é fazer a imunização anualmente. No caso dos seres humanos, a imunização ocorre para profissionais que atuam em contato com animais, como veterinários, e pessoas que podem ter sido expostas.

Veja quais são os sintomas da doença:

Os sintomas nos seres humanos ocorrem após o período de incubação. Os sinais e sintomas clínicos inespecíficos da raiva, que duram em média de 2 a 10 dias, evoluem para um quadro de encefalite. Nesse período, o paciente apresenta:

  • Mal-estar geral
  • Pequeno aumento de temperatura
  • Anorexia
  • Cefaleia
  • Náuseas
  • Dor de garganta
  • Entorpecimento
  • Irritabilidade
  • Inquietude
  • Sensação de angústia

 

Após essa fase, surgem manifestações de ansiedade e hiperexcitabilidade, febre, delírios, espasmos musculares involuntários, generalizados e podendo ser acompanhados de convulsões. Espasmos dos músculos da laringe, faringe e língua ocorrem quando o paciente vê ou tenta ingerir líquido, apresentando salivação intensa. Os espasmos musculares evoluem para um quadro de paralisia, levando a alterações cardiorrespiratórias, retenção urinária e obstipação intestinal (quando o paciente não consegue eliminar as fezes por vários dias). Observam-se, ainda, sintomas como de dificuldade para engolir, aerofobia, hipersensibilidade auditiva e fotofobia.

Raiva animal em cães:

Os animais mais jovens são mais suscetíveis à infecção, cujo período de incubação varia de alguns dias a 2 meses, em média. O animal demonstra alterações sutis de comportamento, anorexia, esconde-se, parece desatento e, por vezes, nem atende ao próprio dono. Nessa fase ocorre um ligeiro aumento de temperatura, dilatação de pupilas e reflexos corneais lentos. Há duas formas de raiva no cão:

  • A raiva furiosa, que causa angústia, inquietude, excitação e agressividade, e se manifesta como expressão natural às sensações de dor a que o animal é submetido, devido à excitação do sistema nervoso central e à preservação da consciência (morde objetos, outros animais e o próprio dono), alterações do latido (latido bitonal), dificuldade de deglutição, sialorreia (produção excessiva de saliva), tendência a fugir de casa, excitação das vias geniturinárias, irritação no local da agressão, falta de coordenação motora, crise convulsiva, paralisia, coma e morte. Na fase prodrômica da raiva, os sintomas não são aparentes, podendo ser comparados aos sintomas de qualquer infecção viral (desconforto, febre e apatia)
  • A forma paralítica da raiva se manifesta de forma leve ou sem fase de excitação e manifestações de agressividade, apresentando sinais de paralisia que evoluem para a morte devido ao comprometimento respiratório central. Deve-se considerar que os sinais e sintomas das formas não seguem, necessariamente, sequências obrigatórias ou apresentam-se em sua totalidade. Os sinais e sintomas da raiva em cães podem ocorrer segundo sequências aleatórias ou mesmo de forma parcial. O curso da doença é de 5 a 7 dias e o animal pode eliminar vírus pela saliva a partir do 5º dia antes da manifestação dos sintomas.

Raiva animal em gatos

Com maior frequência, a raiva em gatos se manifesta sob a forma furiosa, com sinais semelhantes aos dos cães. A mudança de comportamento não é usualmente referida, devido ao comportamento natural dos gatos, que saem às ruas sem controle de supervisão e de mobilidade. Em consequência das próprias características dos felinos, o primeiro ataque é feito com as garras e, depois, com a mordida. Devido às características anatômicas dos gatos, os ferimentos provocados com suas unhas podem causar dilacerações mais intensas e profundas do que as suas mordeduras. As lesões provocadas pela arranhadura de gatos são classificadas como graves e, também, devem ser consideradas as infecções oportunistas delas decorrentes.

 

Gostou da matéria? Escolha como acompanhar as principais notícias do Correio:
Ícone do whatsapp
Ícone do telegram

Dê a sua opinião! O Correio tem um espaço na edição impressa para publicar a opinião dos leitores pelo e-mail sredat.df@dabr.com.br

Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor. As mensagens estão sujeitas a moderação prévia antes da publicação