Ditadura militar

Familiares de desaparecidos políticos cobram retomada de comissão

Grupo de manifestantes reuniu-se em frente ao Palácio do Planalto, na manhã desta quarta-feira (30/8), na tentativa de conseguir encontro com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva

Um grupo de manifestantes se reuniu em frente ao Palácio do Planalto, na manhã desta quarta-feira (30/8). Os familiares de desaparecidos políticos cobravam uma resposta do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) sobre a restauração da Comissão de Mortos e Desaparecidos da Ditadura Militar, que foi extinta na gestão de Jair Bolsonaro.

“A ideia era o presidente nos receber, fizemos uma carta aberta contando toda nossa preocupação e sofrimento durante esses anos todos sem saber como nossos parentes morreram e onde estão sepultados. Nós solicitamos audiência com ele, ele não respondeu. Então, estamos aqui protestando” comenta Diva Santana, 78 anos, do grupo Tortura Nunca Mais da Bahia. A irmã e o cunhado dela são desaparecidos e até hoje ela não sabe onde estão os restos mortais deles. Ela vestia uma camiseta com foto da irmã com a frase “Quem cala sobre teu corpo, consente na tua morte” estampada e segurava uma cruz.

Cada um do grupo levava no peito o familiar desaparecido. Mercês Castro, 64 anos, do Ceará, chegou a pedir um minuto antes da entrevista para “buscar o irmão” e gritou para um companheiro: “Vocês viram meu irmão?”. Em seguida, chegou uma foto impressa. Revoltada, ela desabafa que “o silêncio de Lula há 5 meses é muito difícil”. De acordo com o grupo, o presidente fez promessa em campanha e após assumir seu mandato reforçou que retomaria a Comissão de Mortos e Desaparecidos da Ditadura Militar.

“Eu queria que do jeito que o presidente Lula abraçou as Mães da Praça de Maio, na Argentina, ele dissesse ‘o Estado falhou com vocês, nós falhamos, vocês ficaram abandonadas’. Não precisava nem me abraçar”, desabafa Mercês.

Após uma hora tentando contato com algum representante da presidência da república, o coordenador-geral de informações da secretaria do presidente, Cândido Hilário Garcia de Araujo, apareceu para conversar com o grupo. De acordo com ele, era impossível que o presidente os recebesse ainda hoje. Mas afirmou que tentaria retomar as tratativas. Em um jogo de “empurra-empurra”, o representante alegou que os manifestantes precisavam procurar pelo ministro Silvio de Almeida, dos Direitos Humanos, para que ele puxasse o debate. O grupo afirma que já conversou com o ministro e ele quem pediu para que o governo federal fosse pressionado para agilizar o assunto.

Sem nenhuma resolução e apenas com promessas, o grupo leu ao representante da presidência uma carta que explicava os motivos para retomada da comissão. Enquanto isso, por ironia, um grupo de militares ensaiava para o desfile do 7 de setembro e tornava quase inaudível a voz dos manifestantes.
Veja leitura da carta de manifestação dos familiares de desaparecidos políticos.

Desde o início da semana o grupo está nos espaços políticos pedindo visibilidade. Na tarde de ontem, eles foram ao Congresso Nacional procurar o ministro de Direitos humanos. Essa semana celebra-se 44 anos da promulgação da Lei da Anistia, que é considerada um marco do fim da ditadura militar. Hoje, em especial, é o Dia Internacional das Vítimas de Desaparecimentos Forçados, instituído pela Assembleia Geral das Nações Unidas (ONU), em 2010.