Relatora do projeto que torna permanente a reserva de cotas nas universidades federais e nas instituições federais de nível técnico de nível médio, a deputada federal Dandara Tonantzin (PT-MG) destacou, nesta segunda-feira (28/8), a importância da inclusão para transformar a realidade das populações vulneráveis do país. Ela conta que permaneceu nos últimos dez anos no ensino superior público e pode presenciar, de perto, todas as dificuldades até chegar no ambiente acadêmico.
Tonantzin foi convidada do CB.Poder — parceria entre Correio e TV Brasília — desta segunda-feira (28/8). Na entrevista, ela relatou como teve a realidade transformada por meio da educação. “Eu sei o que é a realidade de você conseguir o ingresso, porque a cota ela garante a entrada, mas tem também a dificuldade de permanecer", apontou.
"Eu sei o que é ter que escolher entre xerocar o livro da aula ou pagar o almoço. O que é ter que escolher entre participar de um projeto ou faltar ao emprego naquele dia, ou não conseguir justificar pro patrão e com isso descontar do salário porque você está participando de um projeto muito importante para sua formação. Senti na pele as dificuldades de você conseguir entrar e permanecer com qualidade e fui vendo também as tecnologias que a academia, que o movimento negro e o movimento estudantil desenvolveram ao longo desses anos para aperfeiçoar a Lei de Cotas”, destacou.
Educação transforma
Para a deputada, é de extrema importância a discussão sobre a revisão da Lei de Cotas. Ela é relatora do projeto que prevê a atualização da legislação que aborda o tema. Sua trajetória é marcada por gerações anteriores não tiveram oportunidade de acessar às escolas e universidades. Ela destacou a posição social em que a população negra se encontrou, mesmo pós-abolição da escravatura, em 1888, e mantiveram em uma estrutura organizada para continuar mantendo hierarquias de privilégio, onde negros estão no ponto mais baixo.
“Minha avó fez só até a 4º série do primário. A minha mãe trabalhou mais de 20 anos como empregada doméstica e só foi estudar depois de bem mais tarde, porque esse espaço não foi feito, pensado, concebido para nós. Eu só fui entender a importância da educação quando já estava na universidade, porque, muitas vezes, entrar na universidade era muito mais um sonho da minha mãe do que meu. E eu percebi como a educação tem a capacidade de transformar vidas. É uma chave que, virada, gera oportunidades”, relembrou.
- Deputada de Minas assume relatoria da Lei de Cotas na Câmara
- Lei de Cotas deve passar por revisão até fim do ano; entenda
- MEC recebe sugestões para aperfeiçoamento da Lei de Cotas
Cotista, tanto na graduação e quanto na pós, ela se diz comprometida politicamente com a agenda de direitos acadêmicos, principalmente no que se refere a inclusão de bolsistas nos programas de assistência estudantil. “Alimentação, transporte, moradia, para a gente combater, justamente, a exclusão e a evasão escolar”, pontuou.
Dandara Tonantzin destaca que, quando assumiu nesta legislatura, a primeira relatoria que propôs foi da revisão da Lei 12.711, que prevê, em seu artigo 7°, que depois de 10 anos aconteça uma avaliação de objetivos e metas. No entanto, essa avaliação que deveria ter sido em 2022 se viu forçada a adiar devido a correlação de forças.
“Era um desejo muito grande do movimento negro que a gente pudesse, não só renovar a Lei, mas ampliar o leque e o campo dos direitos, aperfeiçoar a Lei de Cotas”, conclui a deputada.
* Estagiária sob supervisão de Luana Patriolino