O uso de plásticos chamados “de uso único” representa uma das maiores preocupações para entidades que se dedicam à proteção ambiental, sobretudo dos oceanos. A surfista Maya Gabeira, embaixadora da Unesco para o oceano, defende a substituição do uso desse material e destaca que o plástico não é um material biodegradável. Segundo ela, a mudança depende de fatores econômicos, visto que o Brasil é um grande produtor de plástico e que esse material é um dos mais baratos e confortáveis para produções em massa.
“Cada vez mais fica urgente acabar com a produção desenfreada de plástico. Não adianta mais se falar em reciclar, porque a gente sabe que 9% do plástico é reciclado no mundo”, ressaltou a recordista de ondas gigantes, em entrevista ao CB.Poder — parceria entre Correio e TV Brasília — nesta segunda-feira (14/8).
Maya Gabeira está na capital federal para o lançamento da campanha “Pare o Tsunami de Plástico”, que acontece nesta terça-feira (15) pela organização não-governamental (ONG) Oceana e conta com o apoio de 60 entidades. O objetivo da iniciativa é chamar atenção da sociedade civil e do Congresso para a votação, com urgência, do projeto de lei (PL) 2524/2022, de autoria do senador Jean Paul Prates (PT-RN), que propõe um marco regulatório para a Economia Circular e Sustentável do Plástico no Brasil.
Confira a íntegra do programa:
- Riscos da poluição plástica são piores para os animais em alto-mar
- Representantes de 175 países discutem tratado para o uso do plástico
- Pesquisadores desenvolvem embalagem de plástico comestível
Para Gabeira, os plásticos de uso único — como canudos, talheres, etc — são o principal foco de combate da campanha e do PL 2524/2022. Segundo a embaixadora, a dificuldade em substituir o uso desse material se deve a questões econômicas. Ela ressaltou que, diferentemente de países como o Chile, que empregou medidas para a diminuição da utilização do material, o Brasil é um grande produtor de plástico, derivado da indústria petrolífera. Além disso, ela citou a dificuldade de se encontrar materiais que sejam tão baratos e cômodos à produção.
“Na busca de um novo material que poderia ser utilizado existe uma questão de custo, e aí, naturalmente, (existe) uma pressão econômica para isso. A gente não pode esquecer que a indústria do plástico vem da indústria petroleira, e que o plástico é um produto muito barato e muito confortável. Ele consegue isolar alimentos e não é muito usado na indústria alimentícia e de cosméticos à toa. É um produto extremamente barato e benéfico, não só para indústria que o produz, mas também para indústria que é obrigada a usá-lo”, comentou a surfista.
“Plástico biodegradável” é uma falácia
Ao contrário do que normalmente se acredita, o termo “plástico biodegradável” é uma falácia, destacou. Gabeira explicou que o plástico em si não pode ser, por definição, biodegradável, e que o que a indústria faz é misturar esse material a outras fibras e materiais biodegradáveis, a fim de diminuir o tempo que esses produtos levam para se dissolver no meio ambiente.
“A indústria nos induz a pensar que o plástico é biodegradável. No caso, há um percentual de plástico, tem ali algum percentual de petróleo químico, que pode ser conjugado com cana-de-açúcar, com outras coisas biodegradáveis, mas eles não abrem qual é esse percentual, então a ameaça ambiental continua existindo. Realmente, a solução é começar a investir em outros materiais e viabilizar isso economicamente, fazendo com que isso fique tão barato quanto plástico um dia”, defendeu.
A embaixadora da Unesco para o oceano relembrou ainda que os países subdesenvolvidos, sobretudo do Hemisfério Sul, são os mais afetados pela poluição causada pelo uso ostensivo do plástico. “Os países ricos do Hemisfério Norte são os que mais usam o plástico e são os que mais usam energia. Mas, na verdade, quem paga o maior preço do aquecimento global, da poluição, do excesso de plástico são os países pobres do Hemisfério Sul”, ressaltou.
Para ela, esse impacto deixa claro a importância do tema para o planeta e a necessidade de que ele seja abordado de maneira global. “Daí a importância até da atuação de entidades como a Unesco, para que possa ser um esforço global, realmente. O combate a esse tipo de poluição é um esforço global”, reforçou.
A surfista recordista de ondas gigantes explicou que a capacidade do ser humano em limpar as águas poluídas por esses materiais se torna inexistente a partir do momento em que a indústria do plástico tem crescimento previsto de quatro vezes nos próximos cinco anos. Para ela, isso evidencia ainda mais a necessidade de que se cesse a produção, unida à substituição por outros materiais.
“A gente não conseguiria limpar tudo. Então não cabe, não faz sentido, se você já tem um problema desse tamanho, que você não vai conseguir limpar, continuar despejando e tem uma indústria que tem um posicionamento de crescimento de quatro vezes nos próximos cinco anos... Como essa indústria continua querendo o crescimento se a gente já tem um problema que nem solução tem?”, questionou.
Serviço
Campanha “Pare o Tsunami de Plástico”
Data: Nesta terça-feira (15/8), das 18 às 20h
Onde: Salão Nobre da Câmara dos Deputados
Após o lançamento, vale assinar a petição, que estará disponível no link www.pareotsunamideplastico.org (o site fica ativo amanhã).
*Estagiário sob a supervisão de Andreia Castro
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