O Brasil tem 1,7 milhão de indígenas e cerca de metade vive na região da Amazônia Legal. Os dados são do Censo 2022, divulgados nesta segunda-feira (7/8), pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
A população de indígenas cresceu exponencialmente desde o último Censo, sendo 88,82% nos últimos 12 anos. Em 2010, o IBGE registrou 897 mil indígenas. No entanto, o aumento pode ser explicado por mudanças na metodologia de captação de dados.
“Só com os dados por sexo, idade e etnia e os quesitos de mortalidade, fecundidade e migração será possível compreender melhor a dimensão demográfica do aumento do total de pessoas indígenas entre 2010 e 2022, nos diferentes recortes. Também existe o fato de termos ampliado a pergunta ‘você se considera indígena?’ para fora das terras indígenas. Em 2010, vimos que 15,3% da população que respondeu dentro das Terras Indígenas que era indígena vieram por esse quesito de declaração”, explica Marta Antunes, responsável pelo projeto de Povos e Comunidades Tradicionais em nota do instituto.
A região delimitada pela Amazônia Legal corresponde aos estados: Amazonas, Acre, Amapá, Mato Grosso, Rondônia, Roraima e Tocantins. Eles concentram 51,25% do total da população indígena, totalizando 867.919 pessoas, o que representa 3,2% da população total da região.
O IBGE começou a mapear a população indígena em 1991, com base na autodeclaração no quesito “cor ou raça”. No entanto, a partir do Censo de 2022, o instituto ampliou a metodologia, contando com a participação das próprias lideranças das comunidades no processo de coleta de dados e passando a considerar outras localidades indígenas, além das terras oficialmente delimitadas.
Grande parte dos indígenas do país (44,48%) está concentrada no Norte. São 753.357 vivendo por lá. Em seguida, está o Nordeste, com 528,8 mil, concentrando 31,22% do total de indígenas do país. Juntas, as duas regiões correspondem a 75,71% do total. O restante do país tem a distribuição mais dispersa: Centro-Oeste (11,80% ou 199.912 pessoas indígenas), Sudeste (7,28% ou 123.369) e Sul (5,20% ou 88.097).
Já entre os estados, o Amazonas e a Bahia concentram 42,51% dos povos originários do país. Eles são os estados com maior quantitativo: 490,9 mil e 229,1 mil, respectivamente. Em seguida, vêm Mato Grosso do Sul (116,3 mil), Pernambuco (106,6 mil) e Roraima (97,3 mil). A maioria da população indígena do país (61,43%) vive nesses cinco estados. Entretanto, o Distrito Federal, Sergipe e Piauí são as unidades da federação com o menor número de residentes.
Apesar de ser apenas o quinto estado com maior habitantes indígenas, Roraima é o que tem maior proporção dessa população entre o seu total de habitantes: 15,29%. O estado é seguido por Amazonas (12,45%), Mato Grosso do Sul (4,22%), Acre (3,82%) e Bahia (1,62%).
Entre os 5.568 municípios brasileiros, incluindo o Distrito Federal e Fernando de Noronha, 4.832 tinham, em 2022, pelo menos um residente indígena, o que representa 86,7% do total. Dentre eles, 79 municípios tinham mais de cinco mil habitantes declarados indígenas. Os três municípios brasileiros com o maior número de indígenas são do Amazonas: a capital, Manaus, com o total de 71.713 mil pessoas; São Gabriel da Cachoeira, com 48,3 mil; e Tabatinga, com 34,5 mil.
A maior parte dos indígenas vive fora das Terras Indígenas
Em 2022, foram registrados 689.202 habitantes em Terras Indígenas, mas nem todos são povos originários, apenas 90,26% deles (622,1 mil). O gerente de Territórios Tradicionais e Áreas Protegidas, Fernando Damasco, afirma que a investigação do Censo dentro e fora das Terras Indígenas foi um desafio, já que era a primeira vez que a pergunta de cobertura (“Você se considera indígena?”) foi aplicada fora das terras delimitadas. "Os povos indígenas estão presentes nas cidades, em áreas urbanas, em áreas rurais, em áreas remotas, em favelas e todos precisam ser recenseados”, conta o pesquisador.
Quando considerada a totalidade de indígenas vivendo no país, 622,1 mil (36,73%) residiam em Terras Indígenas e 1,1 milhão (63,27%) fora delas. Três estados respondiam por quase metade (46,46%) das pessoas indígenas vivendo nas terras indígenas: Amazonas (149 mil), Roraima (71,4 mil), e Mato Grosso do Sul (68,5 mil).
O Sudeste era a região com a maior proporção de indígenas que viviam fora desses territórios (82,56% ou 101,9 mil), seguido pelo Nordeste (75,43% ou 398,9 mil) e Norte (57,99% ou 436,9 mil).
A terra indígena Yanomami (AM/RR) é a maior em número de habitantes, com 27.152 ou 4,36% do total de indígenas em terras indígenas. Na Terra Indígena Yanomami, que também é a maior do país em área, com 9,5 milhões de hectares, a operação censitária foi realizada pelos meios de transporte terrestre, fluvial e aéreo.
“Começamos a coleta do Censo Yanomami em agosto de 2022, com campanhas fluviais, com recenseadores subindo os rios nas partes mais baixas da terra indígena e depois também por longos deslocamentos terrestres. Por volta de outubro, iniciamos a coleta através de aviões, com o apoio da Funai, que mobilizou aeronaves e viabilizou o acesso a algumas comunidades com pistas de pouso. Cerca de 60% das comunidades indígenas eram muito remotas, acessíveis apenas por helicóptero”, destaca Fernando.