Intolerância religiosa

Entidades lamentam assassinato de Mãe Bernardete e cobram justiça

Morte causou comoção e revolta em 24 capitais e no Distrito Federal, nesta semana. Os protestos pediam justiça pela morte da líder quilombola baiana

Movimentos negros se mobilizam por justiça em caso de Mãe Bernadete
 -  (crédito: Reprodução/Redes Sociais)
Movimentos negros se mobilizam por justiça em caso de Mãe Bernadete - (crédito: Reprodução/Redes Sociais)
Correio Braziliense
postado em 25/08/2023 19:25

O assassinato da ialorixá Mãe Bernadete, liderança do Quilombo Pitanga dos Palmares e coordenadora da Coordenação Nacional de Articulação de Quilombos (Conaq), motivou uma série de manifestações  de movimentos sociais de resistência negr. O caso que completou uma semana na quinta-feira (24). Ao Correio, a coordenadora de Políticas de Promoção da Igualdade de Gênero e Raça e grupo Jurídico da Coalizão Negra Por Direitos, Maria Sylvia Aparecida de Oliveira, ressaltou que os ativistas acompanham a história com “extrema preocupação”.

“Não é uma situação recente, né? Sabemos que, nos últimos 10 anos, foram assassinados 30 lideranças quilombolas. E, agora, a gente tem o assassinato da mãe Bernadete. Infelizmente, isso não é novidade para nós. Nós lutamos contra a violência do Estado desde que esse país começou a ser estruturado”, destaca Oliveira.

Na avaliação dela, há um acirramento global do racismo e que a ascensão da extrema-direita no mundo que fomenta a discriminação e a xenofobia. “O que nós temos de possibilidade é lutar”, diz. “Meu entendimento sobre a política pública de segurança do Estado para a população negra é o extermínio". 

Ela acredita que as possibilidades de medidas para que haja mudanças significativas na maneira como o governo lida com a violência contra essas minorias é a reestruturação e a reformulação do que o Estado brasileiro entende como segurança pública.

“Isso tem vários aspectos. O que a gente mais cobra é a desmilitarização das nossas polícias, mas tem muitas outras coisas envolvidas, como a modificação da forma de atuação dos agentes públicos em relação à população negra”, ressalta.

Para a comunidade preta, a memória da líder quilombola Mãe Bernadete, assim como a memória da Marielle Franco, se manterá viva. “Vamos estar sempre celebrando a vida de Mãe Bernadete, da liderança, da importância que ela foi, e da mesma forma nós vamos atuar para que a memória e o legado dela não sejam esquecidos.”

O Instituto de Referência Negra Peregum também solidariza com as vítimas da tragédia. Para o grupo, as comunidades quilombolas sofrem diversas ameaças e isso torna a luta quilombola cada vez mais forte pela titulação e reconhecimento de suas terras. “Nos solidarizamos por essa perda e pedimos que as autoridades façam mais que acompanhar. É necessário justiça por Mãe Bernadete, família Pacífico e toda comunidade quilombola no Brasil, uma vez que a investigação da execução de seu filho e de muitos outros quilombolas não foram concluídas.”

Nota de pesar

Em nota, o Conaq lamentou profundamente a perda da líder quilombola. “Este acontecimento trágico evidencia a crueldade das barreiras que se colocam no caminho de quem luta. Enquanto lamentamos a perda dessa corajosa liderança, também devemos nos unir em solidariedade e determinação para continuar o legado que ela deixou", diz a entidade. 

O comunicado ressalta a importância da adoção de medidas imediatas para a proteção das lideranças do Quilombo de Pitanga de Palmares. “É dever do Estado garantir que haja uma investigação célere e eficaz e que os responsáveis pelos crimes que têm vitimado as lideranças desse Quilombo sejam devidamente responsabilizados. É crucial que a justiça seja feita, que a verdade seja conhecida e que os autores sejam punidos. Queremos justiça para honrar a memória de nossa liderança perdida, mas também para que possamos afirmar que, no Brasil, atos de violência contra quilombolas não serão tolerados” aponta.

Assassinato de Mãe Bernadete

Maria Bernadete Pacífico, de 72 anos, líder do Quilombo Pitanga dos Palmares, foi assassinada na noite da última quinta-feira (18). Um grupo invadiu a casa em que ela morava, no município de Simões Filho, região metropolitana de Salvador, e fez de reféns parentes da ialorixá antes de matá-la com 12 tiros. O caso é investigado pelas forças policiais.

*Marina Dantas, estagiária sob supervisão de Luana Patriolino

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