violência

Presidente do STF homenageia Mãe Bernadete

Ministra Rosa Weber e líder quilombola estiveram juntas em julho. Magistrada ouviu da ialorixá que ela e integrantes da comunidade que dirigia vinham sofrendo ameaças — a suspeita é de tenham sido feitas por grileiros que cobiçam a terra

Deputados e ativistas cobraram respostas sobre o assassinato -  (crédito: Reprodução/Redes sociais)
Deputados e ativistas cobraram respostas sobre o assassinato - (crédito: Reprodução/Redes sociais)
Henrique Fregonasse*
postado em 24/08/2023 03:55

Ao abrir a sessão de ontem do Supremo Tribunal Federal (STF), a presidente Rosa Weber homenageou a líder quilombola Bernadete Pacífico, a Mãe Bernadete, assassinada a tiros, na quinta-feira passada, no Quilombo Pitanga de Palmares, na cidade de Simões Filho (BA). Elas estiveram juntas, em julho, no Quilombo Quingoma, em Lauro de Freitas (BA), quando a ialorixá denunciou à ministra as ameaças que ela e integrantes da comunidade que dirigia vinham sofrendo.

Rosa pediu um minuto de silêncio em tributo a Mãe Bernadete e ressaltou, no discurso, que o Brasil tem "um longo caminho a percorrer como sociedade no sentido de avanço civilizatório". "Fiquei tão impressionada com aquela visita que, quando estive com o governador do estado da Bahia (Jerônimo Rodrigues, do PT), à noite, em um jantar que sua excelência, ofereceu, registrei e pedi um cuidado especial com os quilombolas, tamanha a situação que me parece de desamparo. Uma situação muito difícil a das comunidades quilombolas", lembrou a ministra.

Segundo a ministra, foi criado um grupo de trabalho, no Conselho Nacional de Justiça (CNJ), para elaborar estudos e propostas para melhorar a atuação do Judiciário em ações que envolvam posse, propriedade e titulação dos territórios onde estão as comunidades quilombolas.

Mãe Bernadete também foi homenageada na Câmara dos Deputados. Parlamentares, lideranças religiosas e quilombolas caminharam desde o Hall da Taquigrafia até o Salão Verde da Câmara. O ato foi convocado pela Coordenação Nacional de Articulação das Comunidades Negras Rurais Quilombolas (Conaq).

Desgaste político

O assassinato de Mãe Bernadete não apenas chamou a atenção para a insegurança vivida, na Bahia, pelos grupos de descendentes de escravos, como vem desgastando o governador politicamente junto a grupos ligados aos direitos humanos e à preservação das terras das comunidades originárias. Ontem, o advogado da família de Mãe Bernadete, Leandro Santos, do Instituto de Acesso à Justiça e à Cidadania, criticou a declaração de Jerônimo Rodrigues, na terça-feira, que associou o crime à guerra entre facções criminosas. Para o defensor, a afirmação foi "canalha, violenta, precipitada".

Leandro salientou que a afirmação "irresponsável" ameaça interferir na investigação da Polícia Civil. Ele considera que o comentário do governador poderia excluir as motivações mais prováveis do homicídio. Para o advogado, a morte de Mãe Bernadete tem conexão com o assassinato do filho dela, Flávio Gabriel Pacífico dos Santos, o Binho do Quilombo, morto em 2017, possivelmente por grupos interessados nas terras onde está o quilombo.

*Estagiário sob a supervisão de Fabio Grecchi

 

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