A jovem de 27 anos que foi morta pela bala de um policial militar, em Ribeirão Preto, interior de São Paulo, deixou duas filhas pequenas. O corpo da gerente de loja Júlia Ferraz Signoreto foi sepultado, no início da tarde desta terça-feira (15/8) no Cemitério da Saúde, no bairro Campos Elíseos. Abalados, os familiares mais próximos não quiseram falar com a reportagem.
Uma prima, que falou sob a condição de não ser identificada, descreveu um clima de total comoção. "Ela estava no auge da vida, tinha recebido uma nova proposta de trabalho e estava feliz. Deixou duas filhas pequenas, que o pai delas e a família vão continuar apoiando, como sempre fizeram." Em sua página no Instagram, Julia se identificava como "mãe de Valentina e Vitória".
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Conforme a parente, Júlia perdeu a mãe quando tinha 12 anos e ela e o irmão foram criados pelos tios. O pai da jovem mora em São Paulo, onde tem uma empresa de artefatos de madeira. A prima lamentou a imprudência do policial que teria reagido a uma suposta tentativa de roubo, contestada pelos envolvidos.
"Ele fez dez disparos em plena avenida, com muita gente circulando. Foi muita imprudência. Vi que já foi solto. Não posso falar em nome da família, mas acho muita injustiça."
O crime aconteceu na madrugada desta segunda-feira, 14, quando Julia deixou uma casa noturna acompanhada de um amigo. Imagens de câmeras instaladas no local mostram os dois caminhando pela calçada da Avenida Independência, quando surgem duas motos na pista.
Em uma delas estava o soldado da PM Maicon de Oliveira Santos, de 35 anos, e na outra Gustavo Alexandre Scandiuzzi Filho, de 26 anos, que levava na garupa, Arthur de Lucca dos Santos Freitas Lopes, de 18.
Pelas imagens que já estão em posse da polícia, o soldado e os dois rapazes parecem discutir. Em dado momento, a moto com os rapazes se afasta e o policial em sua moto aponta a arma e faz vários disparos.
Outra câmera mostra quando a jovem, que seguia mais adiante pela calçada com o amigo, recebe o tiro e cai. O policial usou o celular para chamar reforço. A vítima foi socorrida pelo Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu), mas a morte foi constatada;
Os dois jovens foram baleados nas pernas e abordados pela polícia quando recebiam atendimento na Unidade de Pronto Atendimento (UPA) Norte. A perícia recolheu dez cápsulas deflagradas no local.
Em depoimento, o soldado disse que estava de folga e ia para uma lanchonete quando foi abordado pela dupla. Um deles teria perguntado se a moto tinha seguro, pois ele ia perdê-la.
Segundo o policial, quando o garupa sacou uma arma, ele fez os disparos. Os dois jovens, no entanto, deram outra versão: disseram que estavam discutindo com o ocupante da moto devido a uma manobra dele e teriam dito apenas que "iriam pegá-lo".
A delegada da Polícia Civil que investiga o caso, Vanessa Matos da Costa, disse que as imagens das câmeras indicam que houve excesso na conduta do policial militar. Segundo ela, ainda que houvesse tentativa de roubo, o que não ficou configurado, o policial começou a atirar depois que os jovens já haviam se afastado dele. Além disso, descarregou a arma em local muito movimentado, colocando em risco a vida de outras pessoas - como a da jovem que acabou atingida e morta.
O soldado foi preso em flagrante pela morte de Júlia, entendida como homicídio doloso na modalidade de dolo eventual, já que ele teria assumido o risco de produzir o resultado morte. O policial também deve responder por duas tentativas de homicídio, por ter baleado os dois jovens. Maicon foi levado para o Presídio Militar Romão Gomes, na capital.
Nesta terça-feira, 15, durante audiência de custódia, a Justiça mandou soltar o PM Santos para que responda ao processo em liberdade. O benefício foi concedido mediante a adoção de medidas cautelares, como se apresentar em juízo mensalmente, fazer prova do endereço e recolhimento domiciliar nos dias de folga, podendo sair de casa apenas para o trabalho.
O advogado do soldado, Gustavo Henrique de Lima e Santos, foi procurado pela reportagem e ainda não deu retorno. A defesa de Arthur, o rapaz que estava na garupa da moto, disse que seu cliente tem 18 anos e nunca teve qualquer passagem pela polícia. Segundo ele, tanto Arthur como Gustavo, o piloto da moto, estavam desarmados. A reportagem não conseguiu contato com o defensor de Gustavo.
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