Lisboa — Brasileiros que se apresentam como advogados e facilitadores estão dando uma série de golpes em pessoas que desejam se mudar do Brasil para Portugal. Nos últimos três meses, o advogado Bruno Gutman fez quase 20 denúncias à Ordem dos Advogados portuguesa, várias delas já encaminhadas ao Ministério Público. Os golpistas oferecem serviços que não podem prestar, cobram caro, muitas vezes somem com o dinheiro, transformando sonhos em prejuízos e desilusão. A maioria deles atua por meio de redes sociais e está envolvida com imigração ilegal.
Segundo Gutman, os golpistas se aproveitam do desejo crescente de brasileiros de se mudarem e viverem em Portugal. Muitos acreditam que vão melhorar de vida no país, considerado um dos sete mais seguros do mundo, num contraste com o Brasil, onde a violência é brutal.
"Há uma romantização em relação a Portugal, que não é um eldorado. Aqueles que atuam à margem da lei vendem sonhos", destaca o advogado.
Ele reconhece que há, sim, oportunidades para quem quer trabalhar e viver em Portugal, mas é preciso um bom planejamento antes da emigração. "A língua é parecida, mas há diferenças grandes entre Brasil e Portugal, seja no comportamento social, seja na legislação", frisa.
A comunidade de brasileiros é a maior entre os estrangeiros que vivem em Portugal. Os últimos dados oficiais do Serviço de Estrangeiros e Fronteiras (SEF), de dezembro de 2022, apontam que há 239,7 mil cidadãos originários do Brasil em território luso. O Itamaraty fala em 360 mil, mas especialistas acreditam que o número real seja mais próximo de 600 mil.
O fluxo de brasileiros para Portugal vem crescendo desde 2017. Muita gente, porém, entra no país como turista e acaba ficando na ilegalidade por longo tempo, até porque há deficiência entre os órgãos responsáveis pela imigração em atender aqueles que querem se regularizar.
"Influencers"
Gutman conta que, desde que identificou os primeiros golpistas, acionou a Ordem dos Advogados em Braga, onde mora, porque, entre os que cometem irregularidades, há profissionais que conseguiram autorização da entidade para trabalhar em Portugal, mas não se inteiraram da questão ética. "Há casos em que essas pessoas cobram até 3 mil euros (R$ 16,5 mil) por um documento que custa 20 euros (R$ 110). E, apesar de cobrarem tão caro, muitas vezes, não prestam os serviços. Há vários relatos de pessoas que chegam em Portugal e sequer têm onde dormir, pois nada do prometido foi providenciado, inclusive o imóvel", ressalta.
Os golpes atingem, inclusive, famílias inteiras. "Quando você vai sozinho para Portugal, até consegue absorver os prejuízos, mas, quando as vítimas são famílias, a situação se complica muito", detalha o advogado.
A esperança de Gutman é de que esses golpistas sejam processados criminalmente, o que, se ocorrer, pode resultar em expulsão de Portugal. Ele recomenda a todos que identificarem as tentativas de fraudes que denunciem ao Ministério Público português.
Sabe-se que, oficialmente, o SEF abriu investigações contra 22 influencers brasileiros por suspeitas de golpes, inclusive, de imigração ilegal. Mas todos os processos estão sob sigilo.
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