Belém — Evento que antecede à Cúpula da Amazônia, Diálogos Amazônicos terminou, ontem, com a plenária Os povos indígenas das Amazônias: um novo projeto inclusivo com diversas etnias. A ação exige protagonismo nos debates de preservação ambiental e mudança do clima, além do papel da proteção de seus territórios para isso. Encabeçado pela ministra dos Povos Indígenas, Sonia Guajajara, o começo e o encerramento do debate foi marcado pela expressão cultural, em forma de dança e canto, das etnias.
Uma das principais faces da causa indígena, o cacique Raoni Metuktire destacou que o evento foi de escuta das autoridades e que, portanto, o momento é de união e defesa do "nosso meio ambiente, das águas, da floresta". "Escutem-me, estamos vivendo problemas. Vocês estão vendo rio secando, ventos fortes ocorrendo e quero informar que, como pajé, eu recebo também mensagens de espíritos sobre problemas que estamos vivenciando. Vocês precisam pensar sobre a situação que está acontecendo e quero dizer que, quando eu era mais jovem, lutei muito para defender todos vocês e estou contente que hoje vocês, dessa nova geração, estão crescendo muito, vocês indígenas estão tendo crescimento da população", observou o líder.
Guajajara informou que as discussões do evento serão incorporadas ao documento final da 30ª Conferência da ONU sobre Mudanças Climáticas (COP30), que acontece em Belém em novembro de 2025. "O que foi discutido anteriormente, e aqui no Brasil nós participamos dessa construção da posição Brasil, é que todos os documentos que sairão das plenárias, aqui dos Diálogos Amazônicos, serão incorporados também ao documento oficial da Cúpula dos Presidentes."
A ministra destacou que, para os indígenas, os desafios envolvem os territórios e, para que ocorra uma mudança, é preciso combater a exploração ilegal de madeira, dos garimpos e da grilagem de terras. E frisou que não se deve proteger apenas o que é chamado de meio ambiente, mas os territórios como um todo. "Nós, povos indígenas, somos 5% da população mundial e protegemos 82% da biodiversidade viva no mundo. Isso significa que somos os guardiões da vida e do futuro. Para nós, pensar tudo isso é pensar também não só a partir dos recursos naturais que precisam ser protegidos, mas da libertação dos territórios como um todo, que preserve as culturas, a biodiversidade, que garanta a vida para as atuais e futuras gerações."
Aquecendo para a Cúpula da Amazônia, que começa amanhã, a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, declarou que há a compreensão entre os presidentes dos oito países que compõem a Organização do Tratado de Cooperação da Amazônia (OTCA) de que é preciso impedir que a floresta chegue ao "ponto de não retorno". "Vamos ter que trabalhar não mais individualmente, mas conjuntamente num esforço regional para nos ajudar mutuamente a alcançar melhores resultados na proteção da floresta, da biodiversidade, dos povos originários, no estabelecimento da parceria que nos leva a outro ciclo de prosperidade."
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Ao fim da Cúpula, os países amazônicos assinarão a Declaração de Belém, que estabelece uma agenda comum de cooperação regional para o desenvolvimento sustentável da região. Porém, para Marina, será preciso atingir "consensos progressivos". "Cada país tem sua dinâmica, suas propostas e obviamente que, no multilateralismo, não existe uma imposição de olhar de um país para o outro", avaliou. "Existe o estabelecimento de consensos progressivos sem prejuízo de que cada país possa defender sua tese no âmbito da própria organização. Nós, ministros do Meio Ambiente, damos nossa contribuição, mas o que sai é sempre uma média ponderada", completou.
Protesto
Em meio ao evento, ambientalistas protestaram contra a exploração de petróleo na foz do Rio Amazonas, no Amapá. "Não queremos óleo no nosso peixe", gritavam os manifestantes do Instituto Arayara. Refletindo o embate governista entre o líder no Congresso, Randolfe Rodrigues (Sem partido-AP) e Marina.
"A posição do governo é respeitar a ciência e a técnica, o tempo de desobediência à ciência e à técnica acabou no país. A Amazônia é a maior floresta tropical do globo, o maior manancial de água potável do planeta […], mas a Amazônia também são 25 milhões de humanos que aqui estão e para isso tem que se debater com eles as alternativas de geração de emprego e de renda", afirmou Randolfe na sexta-feira.
"O Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis) tem um parecer técnico que deve ser observado. Nós já demos mais de 2 mil licenças para a Petrobras ao longo dos tempos. Se as licenças dadas não foram ideológicas, as licenças negadas também não são ideológicas", rebateu Marina.
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