Um helicóptero que caiu com duas pessoas a bordo no Parque Estadual das Várzeas do Rio Ivinhema, em Naviraí, em Mato Grosso do Sul, na quarta-feira, 2, pertence a um empresário investigado em operações contra o narcotráfico, segundo a Polícia Civil.
Os dois ocupantes, que sobreviveram à queda, levavam R$ 32 mil em cédulas de 100 reais. De acordo com o Departamento de Repressão à Corrupção e ao Crime Organizado (Dracco) da polícia estadual, a aeronave estava com o registro cancelado e sem condições de operar.
O helicóptero ficou destruído na queda. Os dois homens foram encontrados cinco horas depois, em meio à mata, pela Polícia Ambiental, desidratados e com ferimentos leves.
Eles não souberam explicar a causa da queda e disseram que tinham decolado de Siqueira Campos (PR) e seguiam para Fátima do Sul (MS). O helicóptero estava sendo levado para manutenção na cidade sul-mato-grossense e dinheiro seria para pagamento da manutenção da aeronave. Segundo a polícia, não há oficina para helicópteros em Fátima do Sul. Eles acabaram liberados após o depoimento.
Conforme a delegada Ana Cláudia Medina, que está à frente das investigações, o voo era clandestino e o piloto já havia sido detido por suposto envolvimento com uma organização criminosa comandada por Antônio Joaquim da Mota, conhecido como Motinha ou Dom, que foi alvo de operações da Polícia Federal contra o narcotráfico, em maio e junho deste ano.
Nos últimos anos, 12 aeronaves pertencentes à mesma organização foram apreendidas pela PF - a última delas em um hangar na cidade paulista de Americana, nesta quinta-feira, 3.
O helicóptero que caiu em Naviraí está registrado na Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) em nome de um empresário que foi alvo da operação Helix, deflagrada pela PF em maio deste ano.
A investigação apurou que ele fornecia e preparava aeronaves usadas para o tráfico de drogas, inclusive para a quadrilha de Dom. O investigado chegou a ser preso, mas foi colocado em liberdade pela Justiça Federal de Curitiba, ficando impedido de sair do país.
Dom, cujo apelido faz referência ao personagem Don Corleone, do filme O Poderoso Chefão, também foi alvo dessa operação e de outra, a Magnus Dominus, mas conseguiu fugir de helicóptero antes da chegada dos agentes à sua fazenda, na fronteira com o Paraguai.
A ação visava a desmantelar um grupo de mercenários que atuava como segurança dos narcotraficantes. Segundo a polícia, Dom passou a integrar a lista de procurados pela Interpol.
Rota de acidentes
Nos últimos três anos, ao menos sete acidentes com helicópteros foram registrados na região de fronteira, entre o Mato Grosso do Sul e o Paraguai, considerada rota de escoamento de drogas que abastecem o Brasil e outros destinos no exterior. Em três dos casos, as aeronaves se chocaram com redes elétricas porque voavam muito baixo, uma estratégia usada por pilotos a serviço do tráfico.
Em setembro de 2020, após pouso forçado em Iguatemi (MS), os ocupantes incendiaram a aeronave e fugiram. Em abril do ano seguinte, um helicóptero caiu em Ponta Porã e o piloto destruiu o GPS. Em junho, uma aeronave fez um pouso forçado em Nova Andradina com 250 kg de cocaína.
Em outra ocorrência, em Ponta Porã (MS), o voo era clandestino e os dois ocupantes morreram. Uma semana depois, outro helicóptero fez pouso forçado em Bataiporã (MS) e foi incendiado. Em fevereiro deste ano, dois ocupantes um brasileiro e um paraguaio - morreram na queda de um helicóptero em Concepción, no lado paraguaio da fronteira.
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