O desmatamento na Amazônia registrou queda de 7,4% de agosto de 2022 a julho deste ano. Os dados são do Sistema Deter e foram divulgados, ontem, pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE). O Cerrado, porém, foi no sentido oposto e bateu recorde no período compreendido entre agosto do ano passado e julho de 2023. A destruição do bioma alcançou 6.359 km², a maior área desde o biênio 2016-2017, o mais antigo da série histórica. Em relação ao período anterior (2021-2022), a alta foi de 16,5%.
No comparativo mês a mês, o desmatamento na Amazônia registrou queda de 66% em julho, frente ao mesmo mês de 2022. Em contrapartida, os dados do mês passado do Cerrado mostraram aumento de 26% no desmatamento em comparação a julho de 2022.
O ciclo anual de desmatamento é medido entre agosto de um ano e julho do ano seguinte. Esses dados funcionam como uma prévia das medições oficiais de desmatamento, feitas pelo sistema Prodes, também do Inpe, que tem mais precisão. Em geral, a revisão pelo Prodes aponta para dados mais altos do que os levantados pelo Deter.
O primeiro semestre costuma ter índices mais altos de desmatamento, por concentrar mais semanas da estação seca. Neste ano, porém, a tendência tem sido de queda nos primeiros meses do ano.
O professor adjunto do Departamento de Geografia da Universidade de Brasília (UnB) José Sobreiro Filho atribuiu o recuo nos números da devastação da Amazônia à atuação do governo federal. Conforme salientou, no atual governo busca-se restabelecer políticas públicas que tinham sido extintas ou reduzidas na gestão do ex-presidente Jair Bolsonaro.
"Temos uma elite nacional que é proprietária de terras e que lutava por flexibilização ambiental. Tem outra fatia, que é aquela totalmente desinteressada no cumprimento de legislações ambientais e agrárias. Esse grupo é o que mais degrada e o que tenta se articular para permitir, por exemplo, a regularização de terras que foram obtidas, sobretudo, com o desmatamento", explicou.
Além disso, para Sobreiro há uma diferença de tratamento dado a cada bioma pelo governo federal. Ele destaca que a Amazônia representa uma "propaganda" muito rica, que garante projeção frente à comunidade internacional — o que não acontece com o Cerrado.
"Enquanto há uma política que consegue comover o mundo para a Amazônia, o Cerrado não vive a mesma realidade. Ele tem sido historicamente interpretado, pelos governos do PT, como a área que será sacrificada para que a gente possa preservar a Amazônia e não levar essa expansão da fronteira agrícola para lá", acusou.
*Estagiário sob a supervisão de Fabio Grecchi
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