Ativistas dos direitos animais realizaram hoje, em Belo Horizonte, um protesto contra o abate de jumentos no Brasil. Promovido pela Frente Nacional de Defesa dos Jumentos (FNDJ), o ato faz parte de um protesto realizado neste domingo (30/7), em 15 capitais brasileiras, contra o abate desses animais para a exportação de seu couro, usado para a fabricação de eijiao, uma espécie de gelatina muito utilizada na China para produção de medicamentos.
De acordo com Adriana Araújo, coordenadora do Movimento Mineiro pelos Direitos Animais, uma das entidades que integra a FNDJ, a intenção do protesto de hoje é chamar a atenção da população para "a realidade grave e desconhecida" do risco de extinção dos jumentos em função do abate para a produção dessa gelatina.
"O animal que transportou Jesus Cristo e que é o símbolo do Nordeste brasileiro, depois de ser substituído pelas motos e descartado nas rodovias, hoje é abatido de forma cruel e corre o risco de desaparecer", alerta a ativista. A FNDJ, segundo ela, quer que o Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa) cumpra a decisão da Justiça Federal e proíba o abate de jumentos em todo o território nacional.
Pierre Barnabé Escodro, professor universitário, médico veterinário e integrante da FNDJ em Alagoas, disse que a Justiça Federal determinou a suspensão do abate de jumentos, atendendo um pedido da Frente, que move uma ação contra essa prática, mas ela continua ocorrendo. Segundo ele, ninguém cria jumento para o abate, pois não compensa, por isso o risco maior ainda de extinção. "No Egito, pelo mesmo motivo, já não tem mais jumentos", afirma. O veterinário diz que eles são capturados nas áreas rurais do Nordeste e vendidos para o abate por cerca de R$ 50. Já o couro, segundo ele, é comercializado no exterior na faixa de 3 a 4 mil dólares.
De acordo com dados da Frente, considerando apenas os registros do Mapa, o abate aumentou mais de 8.000% entre 2015 e 2019, quando o couro passou a ser exportado para a China para produção de cremes de rejuvenescimento e problemas de saúde dos mais diversos, como anemia, insônia e impotência sexual, mas o professor afirma que não há comprovação científica da eficácia desse produto.
Vânia Plaza, médica veterinária e diretora técnica do Fórum Nacional de Defesa Animal, outra entidade que integra a FNDJ, disse que o abate, além de descumprir decisão judicial, é feito de maneira cruel e sem seguir nenhuma regra sanitária, o que favorece a proliferação de doenças que podem contaminar o rebanho e a população. "Temos registro do transporte desses animais de forma clandestina. Eles são recolhidos de forma aleatória e depois mortos em abatedouros da Bahia, sem passar por nenhum protocolo de segurança".
A FNDJ está recolhendo assinaturas em um abaixo assinado que será enviado ao governo federal, ao Mapa e à Justiça Federal. Quem quiser conhecer o documento e assiná-lo basta acessar o site www.salveosjumentos.org.br.
Ninguém do Mapa foi localizado pela reportagem para falar sobre o abate e sobre a decisão da Justiça Federal.