Após dois adiamentos, a Justiça Federal voltou a ouvir, nesta quinta-feira (27/7), os suspeitos do assassinato do indigenista Bruno Pereira e do jornalista Dom Phillips, mortos em junho de 2022, durante uma expedição no Vale do Javari (AM). Amarildo da Costa de Oliveira, Oseney da Costa de Oliveira e Jefferson da Silva Lima foram ouvidos pelo juiz Wendelson Pereira Pessoas, em audiência on-line, e se recusaram a responder às perguntas sobre os crimes investigados. Os suspeitos pediram, ainda, que fossem transferidos a presídios no Amazonas.
O primeiro a depor foi o pescador Amarildo da Costa de Oliveira, 42 anos, detido em um presídio federal no Paraná. Ele alegou que, apesar de saber o motivo de estar preso, não cometeu o crime. Amarildo reclamou por estar há quase um ano sem ver a família e os advogados. Durante a audiência, o Ministério Público Federal (MPF) lembrou que Amarildo já havia confessado o crime para a polícia.
Mesmo informado de que seria sua única chance de falar sob presença do magistrado, o réu decidiu se manter em silêncio. A defesa, porém, afirmou que Amarildo não ficaria calado de forma definitiva e responderia, em outra oportunidade, aos questionamentos.
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Preso na penitenciária federal de Mato Grosso (MT), Jefferson da Silva Lima, de 32 anos, foi o segundo a ser ouvido durante o depoimento. O réu se negou a responder se teria contato com seus advogados e alegou não ter ciência das acusações ou do motivo de estar detido em um presídio federal.
Jefferson confirmou que tem três filhos e reside em Benjamin Constant (AM) e alegou sentir muita falta da família. Ele negou responder seu endereço de residência e reclamou, ainda, de não ter condições financeiras.
O último a depor foi o também pescador Oseney de Costa de Oliveira. Ele também preferiu se manter em silêncio e disse que só falaria com a defesa pessoalmente. O réu se restringiu a responder que mora no Rio Itacoaí, em Atalaia do Norte, tem quatro filhos e é pescador.
Após a audiência, ocorrida em Tabatinga (AM), no fim da manhã, o juiz deu o prazo de 10 dias para que sejam apresentadas as alegações finais.
Os réus já haviam sido ouvidos pela Justiça Federal em 8 de maio, mas um novo interrogatório foi marcado após o Tribunal Federal Regional da 1ª Região aceitar o pedido de Habeas Corpus emitido pela defesa dos acusados.
O pedido, concedido por unanimidade pelos desembargadores federais, lembrava que o juiz anterior do caso, Fabiano Verli, não havia autorizado o depoimento de algumas das testemunhas arroladas pela defesa. Como o Processo Penal Brasileiro prevê que o interrogatório dos acusados só pode acontecer após a oitiva das testemunhas, o tribunal determinou que a Justiça Federal ouvisse as testemunhas e marcasse um novo interrogatório dos réus.
Relembre o caso
Bruno e Dom desapareceram em 5 de junho de 2022, enquanto navegavam próximo à comunidade de São Rafael, no Vale do Javari (AM). Os restos mortais de ambos foram encontrados 10 dias depois, quando Amarildo Oliveira confessou o crime e levou os agentes e indígenas que ajudavam nas buscas ao local onde os corpos estavam sepultados.
Bruno Pereira denunciou que estaria sofrendo ameaças na região da reserva indígena do Vale do Javari. Com mais de 8,5 milhões de hectares, o local concentra o maior número de comunidades indígenas isoladas. À época, o indigenista estava atuando como colaborador da União das Organizações Indígenas do Vale do Javari (Univaja). O jornalista britânico Dom Phillips era colaborador do jornal The Guardian e, com o apoio da Fundação Alicia Patterson, trabalhava em um livro sobre a Amazônia.
*Estagiário sob supervisão de Mariana Niederauer