As mortes violentas intencionais (MVI) — crimes de homicídio doloso, latrocínio, lesão corporal seguida de morte e feminicídio — tiveram uma queda de 2,4% no ano passado. Segundo o Anuário Brasileiro de Segurança Pública, isso indica uma queda de 48,4 mil para 47,5 mil vítimas — é o menor número da série histórica. Em termos relativos, a taxa de mortalidade ficou em 23,4 por grupo de 100 mil habitantes, um recuo de 2,4% em relação ao ano de 2021.
Das cinco regiões do país, duas apresentaram alta nas mortes violentas intencionais: Sul (3,4%) e Centro-Oeste (0,8%). As quedas ocorreram no Norte (-2,7%), no Nordeste (-4,5%) e no Sudeste (-2%), o que puxou uma redução geral dos números em todo o país.
Na avaliação da pesquisadora Betina Barros, do Fórum Brasileiro de Segurança Pública — responsável pelo levantamento —, a queda é vista como uma notícia positiva. Entretanto, não sinaliza uma diminuição da violência no país. Ela destacou, ainda, que a maioria das mortes brutais se deram por arma de fogo.
"Foram 923 vidas poupadas neste último ano. Essa queda de 2,4% é bastante inferior à que a gente queria. Ainda são 47 mil vidas perdidas em 2022, uma taxa de 23,4 por 100 mil habitantes, alta se comparada a outros lugares do mundo. O próprio perfil dessas vítimas continua, ano após ano, sendo muito próximo. Novamente, a gente tem os dados que mais de 90% dessas vítimas são do sexo masculino, 50% entre 12 e 29 anos. É uma juventude que está se perdendo em mortes que poderiam ser evitadas e que atinge, sobretudo, pessoas negras. O racismo é um fator importante, já que 77%, em média, dessas vítimas são negras", explicou.
O Norte e o Nordeste ainda têm os estados mais violentos do país. Em 2022, o Amapá, com taxa de MVI de 50,6 por 100 mil habitantes — mais do que o dobro da média nacional —, liderou o ranking de mais violento. O segundo mais letal foi a Bahia, com 47,1 por 100 mil, e, na terceira posição, o Amazonas — 38,8 por 100 mil.
Os menores índices de letalidade foram registrados em São Paulo, com 8,4 mortes por 100 mil habitantes; Santa Catarina — 9,1/100 mil; e Distrito Federal — 11,3/100 mil. Ao todo, 20 estados registraram taxas de MVI acima da média nacional.
"O Brasil não deixou de ser um país muito violento porque esses números ainda são muito altos, ainda que sejam mais baixos do que em outros períodos. A gente teve um pico de mortes em 2017, eles ainda são elevados e não significam que a gente venceu o desafio dos assassinatos no país", afirmou Betina. (*Estagiária sob a supervisão de Fabio Grecchi)
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