O número de quilombolas é de mais 1,3 milhão de pessoas, sendo que a maior parte está nos estados do Nordeste. O levantamento é do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), que divulgou, ontem, a pesquisa Brasil quilombola: Quantos somos, onde estamos?, em uma cerimônia que contou com a participação de várias lideranças das comunidades erguidas a partir dos escravos africanos ou por seus descendentes.
Segundo o levantamento, apenas 12,6% quilombolas estão em territórios reconhecidos oficialmente pelo Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra). Os que estão em territórios demarcados totalizam 4,3% da população.
Para mapeá-los, o IBGE fez a pergunta "Você se considera quilombola?". Caso a pessoa respondesse positivamente, tinha de indicar a comunidade da qual faz parte. O grupo corresponde a 0,65% da população brasileira (1.327.802 cidadãos) e são quase 474 mil domicílios com pelo menos um morador quilombola.
O presidente interino do IBGE, Cimar Azeredo, explicou que o instituto trabalhou em parceria com as lideranças quilombolas e com a coordenação nacional da Articulação das Comunidades Negras Rurais Quilombolas (Conaq). "Para chegar a esse número, o Censo 2022 quilombola foi feito seguindo convenções importantes, como a da OIT (Organização Internacional do Trabalho, braço das Nações Unidas), que recomenda a consulta às lideranças em todas as etapas do processo de pesquisa. Virão muito mais (dados) aí de quilombolas", afirmou.
Bahia e Maranhão
O Nordeste concentra 68,19% dos quilombolas, uma boa parte na Bahia e no Maranhão — que concentram quase 50% deles. Na Bahia, há 397,1 mil e, no Maranhão, 269,1 mil. Dois municípios baianos têm o maior número: Senhor do Bonfim (15.999) e Salvador (15.897).
Minas Gerais (135,3 mil), Pará (135 mil) e Pernambuco (78,8 mil) estão na sequência das unidades da Federação que mais concentram representantes do grupo. As únicas nas quais o IBGE não encontrou quilombolas são Acre e Roraima.
Na Amazônia Legal (composta pelos estados Amazonas, Acre, Rondônia, Roraima, Pará, Amapá, Tocantins, Mato Grosso e a maior parte do Maranhão), o Censo 2022 encontrou 426.449 quilombolas, o que representa 1,6% da população desta região e quase 1/3 dos representantes do grupo.
Dandara Mendes, do Território Quilombola Conceição das Crioulas, em Salgueiro (PE), destacou a importância de, pela primeira vez, tais comunidades terem visibilidade por meio de um levantamento estatístico. "A maioria que soube que seria contada se sentiu privilegiada, mas nem deveria. A gente sabe que esse mais de 1 milhão (de quilombolas) vai além, porque muitos não foram contados", salientou.
Dos 5.570 municípios do país, 1.696 têm moradores da comunidade (30,5%) e 87,41% dessa população vivem fora dos territórios oficialmente delimitados para quilombolas. Senhor do Bonfim (BA) é a cidade com a maior quantidade de absoluta representantes (15.999 pessoas), seguida por Salvador (15.897), Alcântara (MA) (15.616) e Januária (MG) (15 mil).
Em relação à proporção de quilombolas diante da população total do município, Alcântara apresenta 84,6%. Destacam-se, ainda, Berilo (MG), Cavalcante (GO), Serrano do Maranhão (MA) e Bonito (BA), que têm mais de 50% da população que se declarada quilombola. Joelita Bittencourt, integrante da comunidade do Rincão dos Negros (RS), foi uma das recenseadoras da pesquisa.
"Foi uma grande emoção porque, com 52 anos, foi a primeira vez que (o Censo) os incluiu. É uma alegria saber que a gente está nesta contagem, mas ainda tem quilombos que não são reconhecidos nacionalmente", observou.
O coordenador nacional da Articulação das Comunidades Negras Rurais Quilombolas (Conaq), Denildo Rodrigues de Moraes, destacou a importância do mapeamento e disse que a divulgação dos dados tira os quilombolas da invisibilidade. "Dias como o de hoje (ontem) são históricos. O Censo, para nós, é uma conquista de lutas. É importante que a gente avance na construção de políticas públicas. Esses dados vão servir para todos os ministérios que atuam com as políticas quilombolas", salientou.
Racismo fundiário
O coordenador do Conaq lembrou que as lideranças quilombolas foram essenciais para a coleta de dados e cobrou o direito de propriedade das comunidades. "Quando a gente destaca a questão territorial, temos um atraso significativo, e isso é fruto do racismo fundiário no país. Se a gente pegar o resultado dos outros censos, veremos de forma nítida que as pessoas sem terra no Brasil são negras", lamentou.
Roberta Eugênio, Secretária-Executiva do Ministério da Igualdade Racial, afirmou que, com o Censo que dá visibilidade às comunidades quilombolas, o Brasil começa a resolver um pouco da história e começa a cumprir um compromisso civilizatório. "Estamos concretizando a promessa que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva fez quando subiu a rampa com representantes do povo brasileiro. Não é só sobre a política que fazemos, mas como essa política é feita. Neste lançamento, a gente não está apenas divulgando novos dados sobre a população quilombola do Brasil, mas mostrando que para fazer política para o povo, é preciso fazer a política do povo."
*Estagiária sob a supervisão de Fabio Grecchi
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