O número de brasileiros com idade entre 18 e 24 anos obesos aumentou em 90% no último ano. Em 2022, jovens com Índice de Massa Corporal (IMC) maior ou igual a 30, o que configura obesidade, eram 9%, enquanto, em 2023, o percentual disparou para 17,1%. Os dados são do Inquérito Telefônico de Fatores de Risco para Doenças Crônicas Não Transmissíveis em Tempos de Pandemia (Covitel), divulgado nesta quinta-feira. Depois da pandemia de covid-19, a qualidade de vida desta população piorou.
Realizado pela Vital Strategies e pela Universidade Federal de Pelotas (UFPel), o estudo tem como público alvo a população adulta, com 18 anos ou mais. No que se refere à correlação alimentação-atividade física, o estudo cita uma série de fatores que contribuíram para o aumento da obesidade entre os jovens. Lista, entre outros, o maior número de diagnósticos de ansiedade, o consumo insuficiente de frutas e verduras, o consumo frequente de refrigerantes e sucos artificiais, além do sedentarismo e da falta de sono.
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Os fatores alimentares chamaram a atenção dos pesquisadores. Apenas 33,5% dos jovens brasileiros consomem frutas regularmente, e 39,2% incluem verduras e legumes na dieta diária em, pelo menos, cinco refeições por semana. Enquanto isso, 24,3% deles assumem que consomem refrigerantes e sucos artificiais frequentemente.
Falta de sono
O sono da população entre 18 e 24 anos também acende a luz de alerta, segundo o Covitel: 42,8% desses jovens dormem por períodos menores que a quantidade de horas recomendadas à faixa etária (sete a nove horas diárias, de acordo com a National Sleep Foundation).
Esses fatores podem impactar em alguns quadros clínicos, sobretudo na saúde mental. O estudo mostra que 31,6% dos brasileiros da faixa 18-24 anos receberam o diagnóstico clínico de ansiedade, e 14,1% de depressão. Ao mesmo tempo, foi constatada a hipertensão arterial em 8,2% desses jovens.
"O excesso de peso vem numa tendência de crescimento há muitos anos. Mas estamos saindo de uma pandemia e essa população, que hoje está com 18 anos, há três anos estava em plena adolescência, que é a época em que socialização é super importante, e ficou todo mundo dentro de casa, sem fazer atividade física. A saúde mental foi agravada", diz Luciana Vasconcelos Sardinha, uma das coordenadoras da pesquisa e gerente sênior de Doenças Crônicas Não Transmissíveis da Vital Strategies.
O panorama acendeu alerta de especialistas, que consideram urgente uma abordagem multifatorial para combater o problema. "Tem de ter políticas públicas que deem oportunidades de melhores escolhas. Há uma discussão, na reforma tributária, de um imposto seletivo para alimentos que fazem mal à saúde, por exemplo. A gente sabe que, se aumentar o preço, diminui o consumo, o acesso", afirma a pesquisadora.
Para o nutricionista Arthur Saggioro, os dados demonstram a má qualidade de vida dos jovens. Ele acredita que o baixo consumo de frutas e verduras pode causar uma deficiência de nutrientes importantes, enquanto o consumo excessivo de refrigerantes resulta na ingestão de altos níveis de açúcar e sódio — que trazem males para a saúde.
"No estudo fica clara a relação entre o aumento do consumo desses alimentos e o dos índices de sobrepeso, obesidade e hipertensão arterial", ressalta.
A conexão entre sedentarismo e o ócio envolvendo equipamentos eletrônicos também é mencionada na pesquisa. Segundo o estudo, 63,1% dos jovens nessa faixa etária não praticam os 150 minutos semanais de atividade física recomendados pela Organização Mundial da Saúde (OMS).
Em contrapartida, 76,1% utilizam dispositivos como celulares, tablets e televisores para lazer diariamente por, ao menos, três horas. Dessa forma, o levantamento traz a faixa etária de 18 a 24 anos como líder no chamado tempo de tela. (Com Agência Estado)
*Estagiário sob a supervisão de Fabio Grecchi
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