A população brasileira teve a menor taxa de crescimento de sua história — com 0,52% ao ano desde 2010. A constatação, que surpreendeu os especialistas, está no resultado do Censo 2022, divulgado nesta quarta-feira pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Ao todo, o Brasil atingiu 203 milhões de habitantes, menos do que os 213 milhões estimados pelo IBGE em 2021. O levantamento foi publicado após um atraso de três anos, causado pela pandemia de covid-19 e por dificuldades na coleta de dados para os questionários.
O material recolhido pelo IBGE também surpreendeu pela queda da concentração de pessoas nos grandes centros urbanos. Algumas capitais, como Rio de Janeiro (-1,7%) e Salvador (-9,6%), tiveram queda no número de habitantes — fenômeno considerado inédito por técnicos do Instituto. Em relação aos lares brasileiros, caiu o número de pessoas por domicílio, mas aumentou o número de casas, o que indica famílias menores ocupando mais residências.
Contribuíram para o resultado do Censo 2022 o envelhecimento da população e a queda da taxa de natalidade. A diminuição do crescimento era esperada, mas surpreendeu pela magnitude. Em relação à densidade demográfica, foi percebida uma migração das grandes capitais para cidades menores, o que pode ser explicado pelo alto custo de vida e pelo aumento da prosperidade em alguns municípios.
"Estamos mostrando um novo retrato do Brasil para a sociedade", disse o diretor de Geociências do IBGE, Cláudio Stenner. Ele explicou que, quando se compara as grandes cidades — que têm mais de 750 mil habitantes — com as médias — de até 100 mil —, as maiores cresceram até duas vezes menos. "Há uma intensificação do crescimento das cidades médias, pode-se dizer", reconheceu.
Baixo crescimento
Com avanço populacional de 6,5% se comparado ao Censo de 2010, o Brasil teve o menor índice de crescimento anual da série histórica — iniciada em 1872 com o primeiro levantamento. O Sudeste ainda é a região mais populosa do país, com 84,8 milhões de habitantes (41,8% do total do país). O Nordeste vem em seguida, com 54,6 milhões (26,9%). Mas as taxas de crescimento anual foram as mais baixas, de 0,24% (Nordeste) e 0,45% (Sudeste).
Já a região menos populosa é a Centro-Oeste, com 16,3 milhões de habitantes (8% da população), que, apesar disso, teve o maior crescimento demográfico — 1,23% ao ano. O Norte, com 17,3 milhões de habitantes (8,5% do total), é a segunda região menos populosa, mas teve o segunda maior crescimento (0,75%). O Sul chegou a 29,9 milhões de habitantes (14,74% do total).
São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro ainda são os estados mais populosos, concentrando 39,9% da população brasileira — somente o território paulista tem 44,4 milhões de pessoas. Roraima segue no fim da lista, com apenas 636,3 mil habitantes, apesar do crescimento anual de 2,92%. Já o Distrito Federal registrou um crescimento anual acima da média nacional (0,52%) no período.
Dos 5.570 municípios no país, 44,8% têm até 10 mil habitantes. Cinquenta e sete por cento da população moram em apenas 319 municípios, o que indica uma concentração nos centros urbanos com mais de 100 mil habitantes — 124,1 milhões de pessoas. São Paulo é a cidade mais populosa, com 11,5 milhões, seguida pelo Rio de Janeiro (6,2 milhões) e por Brasília, que superou Salvador e alcançou o terceiro lugar, com 2,8 milhões de habitantes.
"O que a gente percebeu são padrões de crescimento da população que retratam novas dinâmicas. O eixo que vai de Curitiba a Florianópolis é uma região em que a maioria dos municípios teve grande crescimento demográfico. O mesmo vale para o eixo que vai de Goiânia a Brasília", explicou Stenner.
Em contrapartida, ele salientou que as concentrações urbanas de Porto Alegre, Belém, Rio de Janeiro e Salvador — incluindo as respectivas regiões metropolitanas — perderam população.
*Estagiárias sob a supervisão de Fabio Grecchi
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