A Polícia Civil do Paraná concluiu, nesta quarta-feira (28/6), o inquérito sobre o ataque a tiros em uma escola de Cambé, no Norte do estado, na semana passada, em que dois adolescentes foram assassinados por um ex-aluno. Quatro pessoas foram indiciadas por participação no crime. O autor dos disparos, um homem de 21 anos que chegou a ser preso logo depois do ataque, foi encontrado morto, dois dias depois, na cela em que cumpria prisão preventiva decretada pela Justiça. De acordo com as investigações, o mentor intelectual do atentado é um jovem de 18 anos, preso em Gravatá, interior de Pernambuco, com quem o executor trocava mensagens.
Segundo o delegado-chefe da Subdivisão da Polícia Civil em Londrina, Fernando Amarantino Amorim, o rapaz preso em Gravatá foi indiciado por homicídio doloso com base nas mensagens encontradas nos telefones celulares apreendidos, “visto que teve contribuição fundamental na execução do crime, instigando e direcionando o executor”. O suspeito vinha sendo investigado pela polícia, desde o ano passado, por ato infracional análogo ao crime de armazenamento de material pornográfico com menores de idade e imagens de violência extrema.
- Menina morre em ataque a tiros em escola no Paraná; autor foi preso
- Artigo: Escalada de violência
- Lula lamenta ataque em escola: "Urgente construirmos caminho para paz"
Um homem de 21 anos, preso preventivamente desde a semana passada, é apontado como cúmplice por ter ajudado no planejamento e na execução do crime. Ele era amigo do autor do ataque — ambos moravam em Rolândia (PR) — e também foi indiciado por homicídio qualificado. A polícia apurou que o amigo ajudou o autor a comprar materiais que foram usados no atentado, como uma beca preta. “No sábado (17/6), os dois se encontraram no Ginásio de Esportes de Rolândia, tiraram fotos e gravaram vídeos para serem postados minutos antes do atentado. Nas postagens, o atirador aparece paramentado com a beca que foi encontrada na cena do crime, em sua mochila”, informou a polícia.
Os outros dois suspeitos de participação no ataque, de 35 e 39 anos de idade, vão responder por comércio ilegal de arma de fogo e munições. O delegado-chefe de Cambé, Paulo Henrique Costa, informou que os dois primeiros são considerados “sujeitos ativos” do crime que vitimou Karoline Verri Alves, de 17 anos, e Luan Augusto, 16. Ele disse que toda a ação foi planejada “via aplicativos e inspirados em atos cruéis compartilhados na deepweb”.
O crime
A polícia informou que o autor do ataque estudou no colégio do segundo ao sétimo ano do ensino fundamental, período no qual ele relatou ter sofrido bullyng dos colegas. O atentado estaria, de acordo com o depoimento, sendo planejado havia mais de quatro anos. “Todos (os envolvidos) alegam ser vítimas de bullying. A questão da perversidade fica clara, eles falam muito em mortes, suicídios, psicopatias, serial killer, e buscam esses ataques como símbolos e heróis. Têm ideologias que seriam referentes à morte, certos preconceitos”, explicou o delegado-chefe da cidade paranaense. Para ele, os dois viviam “em um mundo paralelo virtual” e que o assassino “tinha uma vida em Rolândia aparentemente normal". "Ele estudou, trabalhava com o pai no campo, e, paralelamente, tinha essa outra vida.”
Na segunda-feira da semana passada (19/6), o executor entrou no Colégio Estadual Professora Helena Kolody dizendo que ia pegar documentos na secretaria. No pátio, ele fez disparos aleatórios contra alunos que estavam na aula de educação física. Karoline e Luan eram namorados. Ela morreu na hora, ele chegou a ser levado para um hospital, mas não resistiu. O autor do ataque foi contido por um homem que ouviu os tiros e entrou na escola e encaminhado, pela polícia, para a Casa de Custódia de Londrina, a 15km de Cambé. Dois dias depois, foi encontrado morto na cela. A principal hipótese dos investigadores é suicídio. O colégio retomou as aulas no início desta semana, com policiamento reforçado. O assassino não conhecia as vítimas.