Pessoas que participaram de dois eventos na Fazenda Santa Margarida, área rural de Campinas (SP), estão sendo alertadas para que fiquem atentas a possíveis sinais de infecção por febre maculosa. Três pessoas que foram a uma festa na fazenda morreram em decorrência da doença, e três casos ainda estão sendo investigados: o de Erissa Nicole Santana, uma adolescente de 16 anos que teve a morte confirmada na terça-feira, e duas mulheres que estão internadas. Todas estiveram em eventos promovidos na propriedade rural entre o fim de maio e o início de junho.
O Departamento de Vigilância em Saúde (Devisa) da cidade está investigando um possível surto a partir da contaminação de frequentadores da Feijoada do Rosa — evento tradicional que reuniu, neste ano, cerca de 2,5 mil pessoas, em 27 de maio — e do show do cantor e compositor Seu Jorge, com 10 mil pessoas, no início deste mês. Douglas Costa, 42 anos, a namorada dele, Mariana Giordano, 36 anos, e Evelyn Santos, 28 anos, todos com morte confirmada por febre maculosa, participaram da Feijoada do Rosa, assim como Erissa, cuja contaminação ainda está sob análise, e uma das mulheres internadas. O sexto caso suspeito é de uma moradora de Campinas que estava na plateia do show de Seu Jorge e permanece em tratamento.
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De acordo com a diretora do Departamento de Vigilância em Saúde da cidade, Andrea Von Zuben, "Campinas está vivendo um surto de febre maculosa". Como a doença leva até 14 dias para se manifestar, novos casos ainda podem surgir. A Fazenda Santa Margarida suspendeu a programação de eventos e ficará fechada por 30 dias.
Douglas, Mariana e Evelin estavam entre as cerca de 3,5 mil pessoas que pagaram até R$ 750 por um ingresso para a festa Feijoada do Rosa. A adolescente Erissa era filha de um fornecedor da festa e foi à fazenda para acompanhar o pai em uma entrega. Ela começou a sentir sintomas característicos da doença poucos dias depois.
A organização do evento lamentou as mortes e se solidarizou com parentes e amigos das vítimas, em nota divulgada à imprensa. E declarou estar à disposição das autoridades para auxiliar no for necessário. O distrito onde está localizada a fazenda é considerada pelas autoridades epidemiológicas como área de risco para febre maculosa na região da Grande Campinas.
Joana D'arc Gonçalves da Silvia, médica infectologista do Centro Especializado em Doenças Infecciosas, explica que a febre maculosa é uma doença infecciosa de gravidade variável, mas é contagiosa, ou seja, não pode ser transmitida de uma pessoa para outra. "A febre maculosa é transmitida por um carrapato, o micuim ou carrapato-estrela, que se alimenta do sangue de alguns animais de grande porte, como cavalo e capivara. Esse carrapato infectado, quando pica o ser humano, pode transmitir a bactéria rickettsia e, assim, resultar na febre maculosa."
O médico infectologista e diretor da Sociedade Brasileira de Infectologia Leonardo Weissmann informa que casos de febre maculosa são registrados tanto em áreas rurais quanto urbanas, mas costuma acometer quem frequenta ambientes de mata, beiras de rio ou cachoeiras. Pastos e áreas gramadas também são locais em que o carrapato-estrela pode estar presente.
"A pessoa deve consultar o seu médico imediatamente se for mordida por um carrapato-estrela e evoluir com febre alta, manchas vermelhas que ficam brancas se você as pressionar, dor de cabeça, dor no corpo, mal-estar, náuseas e vômitos", alertou Weissmann. Essa recomendação vale também para pessoas que não tenham sido mordidas por carrapato mas apresentam sintomas após ter contato com animais domésticos ou silvestres ou, ainda, que tenham frequentado uma área de transmissão de febre maculosa nos últimos 15 dias.
Predomínio no Sudeste
Segundo dados do Ministério da Saúde, referente ao período de 2012 e 2022, São Paulo lidera o ranking de casos e óbitos. O estado registrou 467 mortes (quase 60% dos 796 casos confirmados no país), seguido por Minas Gerais (109 mortes), Rio de Janeiro (60), e Espírito Santo (37).
Weissmann ressaltou que a chance de cura para quem contrai febre maculosa é maior quando o tratamento se dá no início dos sintomas — a doença pode se manifestar em até duas semanas após o contágio. "A infecção pode matar se não for tratada a tempo. Quando a terapêutica apropriada é iniciada nos primeiros cinco dias da doença, a evolução tende a ser benigna", explica o infectologista.
*Estagiária sob a supervisão de Vinicius Doria
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