OBITUÁRIO

Morre Rosa Cass, pioneira do jornalismo econômico

O velório está marcado para este domingo (11/06), das 7h30 às 9h30, na Chevra Kadisha, na Rua Barão de Iguatemi 306, Praça da Bandeira. O enterro será no Cemitério Israelita de Belford Roxo, às 10h30

Era comum as autoridades da área econômica, quando estavam no Rio de Janeiro, atrasarem as entrevistas até que a repórter Rosa Cass chegasse. A deferência à jornalista era um reconhecimento ao pioneirismo dela na cobertura econômica. Eram pouquíssimas as mulheres a escrever sobre os temas que, muitas vezes, deixavam irados integrantes dos governos militares, que vendiam o discurso de que o Brasil vivia o milagre econômico. Rosa insistia em mostrar que, sim, o país crescia, mas às custas de um enorme endividamento externo e com grande concentração de renda entre os mais ricos.

Não por acaso, ao longo dos anos 1980 a 2000, ela se tornou referência para uma legião de jovens repórteres que deixavam os bancos das universidades para desbravar redações dos principais veículos de comunicação do Brasil. Sempre combativa, mas sem arrogância, mostrava aos meninos e meninas, como ela tratava os iniciantes, a importância de sempre ouvir o outro lado, para dar o direito do contraditório, explicava. Muitos esperavam as suas perguntas nas entrevistas para definir qual direção dariam a seus textos. Rosa sempre entregava o lide, que, na linguagem jornalística, define a informação mais importante.

Rosa morreu neste sábado (10/6) de insuficiência renal, aos 97 anos. Ela nasceu em Campos dos Goytacazes, no norte fluminense, onde sua família, vinda da Moldávia, se instalou fugindo da perseguição aos judeus. Começou tardiamente no jornalismo, após carreira como professora e pedagoga. No Jornal do Commércio e na Tribuna da Imprensa, jornais nos quais trabalhou por mais de três décadas, especializou-se na cobertura do mercado financeiro. O conhecimento sobre os temas era tamanho, que, com frequência, banqueiros faziam questão de chamá-la para longas conversas.

Inquieta, Rosa ainda atuou como voluntária no Instituto Rogério Steinberg, treinando jovens carentes a refletir sobre os vários momentos vividos pelo país e editava o jornal da instituição com matérias escritas por eles. Gostava muito de literatura e era amiga pessoal de várias escritoras, como Clarice Lispector e Nélida Piñon, que a levou para assessorá-la em seu mandato como presidente da Academia Brasileira de Letras (ABL).

Octávio Costa, presidente da Associação Brasileira de Imprensa (ABI), conviveu com Rosa Cass e lamentou profundamente a sua morte. "Rosa Cass foi uma jornalista aguerrida, questionadora e à frente do seu tempo. Ajudou a formar uma geração de jovens jornalistas, especialmente mulheres que estavam chegando à Editoria de Economia após a ditadura. Deixa um legado de luta e compromisso com o jornalismo combativo”, disse.

O secretário de Fazenda do Governo do Paraná, o economista René Garcia Júnior, também conviveu profissionalmente com Rosa quando foi diretor da da Comissão de Valores Mobiliários (CVM) e da Superintendência de Seguros Privados (Susep), autarquias ligadas ao Ministério da Fazenda, e tornaram-se amigos. “A jornalista Rosa Cass foi um exemplo de profissional. Dedicada, sempre responsável e, acima de tudo, possuía um raro dom para identificar um furo jornalístico. Tive o privilégio de conviver com ela como fonte e como amigo. Sua memória vai permanecer em nosso coração e na mente de seus amigos, admiradores e leitores”, destacou.

Diretor e editor do Jornal do Commércio por muitos anos, o jornalista Aziz Ahmed, se recorda da personalidade firme de Rosa ante as autoridades, mas também doce com os amigos. “Conheci a Rosa desde os anos de chumbo, quando a cobertura econômica era a mais importante, até porque eram conhecidas as limitações da editoria política no regime militar. O Brasil vivia um período de pujante crescimento. E a cobertura econômica se concentrava no Rio de Janeiro. Trabalhávamos em jornais diferentes. Ela sempre a chamou atenção pela ousadia, a aguçada curiosidade e a polêmica com os entrevistados. Uma excelente e respeitada repórter, numa época que o jornalismo econômico era raro de presença feminina”, afirmou. “Anos mais tarde, início dos anos de 1980, quando fui dirigir a redação do Jornal do Commércio, trouxe a Rosa para a nossa equipe, onde ela trabalhou por longo período e consolidou uma fraterna amizade, não só comigo, mas com todos, absolutamente todos os seus companheiros de trabalho”, lembrou.

O velório está marcado para este domingo (11/06), das 7h30 às 9h30, na Chevra Kadisha, na Rua Barão de Iguatemi 306, Praça da Bandeira. O enterro será no Cemitério Israelita de Belford Roxo, às 10h30.

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