Ao completar um ano dos assassinatos do indigenista Bruno Araújo Pereira e do jornalista Dom Phillips, nesta segunda-feira, o Ministério da Justiça e Segurança Pública (MJSP) lançou um edital de R$ 3 milhões para financiar organizações que atuam nas terras indígenas a fim de mitigar os efeitos do narcotráfico entre os povos nativos. Isso porque o governo federal recebeu vários relatos de violência contra indígenas e sobre o avanço das quadrilhas nesses territórios.
Entre os casos levantados pelo governo estão violência e exploração sexual, cooptação de jovens para o tráfico e o abuso de álcool e drogas nas comunidades. Segundo a secretária nacional de Política sobre Drogas, Marta Machado, "o agravamento dessa situação impõe às populações indígenas uma série de violências, ameaças, coações, assassinatos de lideranças, violência e exploração sexual, trabalho forçado em atividades ilícitas, cooptação de jovens para o tráfico, disponibilização indevida de drogas em seus territórios".
O edital será coordenado pela Secretaria Nacional de Política sobre Drogas (Senad) do MJSP, que, pela primeira vez, constrói uma política voltada às populações indígenas, segundo Marta. "O avanço das organizações criminosas sobre as terras indígenas também impacta em questões de saúde indígena, como doenças e distúrbios associados ao abuso do álcool e de outras drogas", salientou.
Para os pesquisadores que atuam junto às comunidades nativas, quadrilhas de traficantes estão por trás dos assassinatos de Bruno e Dom, no Vale do Javari. Segundo o procurador jurídico da União dos Povos Indígenas do Vale do Javari (Univaja), Eliésio Marubo, a ação do governo federal nesses primeiros 100 dias foram insuficientes.
"Enquanto fazíamos esse diálogo com o governo, pessoas continuavam ameaçadas. Sofri um novo atentado recentemente. Estou andando com segurança, com carro blindado. Isso não é normal", frisou Eliésio. Ele frisou que cerca de 11 pessoas estão ameaçadas de morte na região, incluindo servidores da Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai).
A presidente da Funai, Joênia Wapichana, reconheceu que recebe reclamações de lideranças indígenas sobre a atuação do governo, mas justificou que assumiu o órgão em uma situação de desmonte. "A gente está respondendo a muitos anos de paralisia dentro da Funai", garantiu. (Com Agência Brasil)
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