Censo 2022: entenda por que a população de Salvador encolheu 9,6%

Francisco Artur

postado em 28/06/2023 20:27 / atualizado em 11/08/2023 18:46

17/08/2014. Crédito: Isac Kosminsky/D.A Press. Brasil. Salvador - BA. Largo do Farol da Barra. - (crédito: Isac Kosminsky/D.A Press)

O Censo 2022, publicado nesta quarta-feira (28/6) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), mostrou uma redução de 9,63% da população de Salvador, em comparação com a pesquisa feita em 2010. Isso significa que a quantidade de pessoas que mora na capital baiana saiu de 2.675.656 habitantes, 13 anos atrás, para atuais 2.418.005 moradores.

De acordo com o professor de Geografia Gilton Carmo, a diminuição populacional pode ser explicada por um fenômeno de êxodo metropolitano. Em outras palavras, a primeira capital do país vive um processo de fuga dos moradores.

"Um dos fatores que explica essa diminuição da população de Salvador é o processo de desmetropolização. Isso significa que as pessoas saem daqui [Salvador], mas ainda buscam morar em zonas urbanizadas. A desmetropolização é uma fuga das metrópoles, não pode ser confundido como um êxodo urbano", explicou.

Além de Salvador, metrópoles como Belo Horizonte (MG), Recife (PE), Belém (PA), Porto Alegre (RS) e Rio de Janeiro (RJ) também apresentaram diminuição populacional.

Quanto aos motivos que levam ao movimento de saída das metrópoles como Salvador, o educador esclarece que a busca por locais que ofereçam trabalho e qualidade de vida pesam no momento de mudança.

"Salvador vem se tornando uma cidade cara e, ao mesmo tempo, não tem oferecido boas oportunidades de trabalho e passa por uma estagnação econômica. Além disso, Salvador se mostra como um município desigual e violento. Então as pessoas, no momento em que decidem se mudar, procuram centro urbanos mais seguros e que ofereçam oportunidade de trabalho", desenvolveu Gilton.

Reflexos da pandemia

Com um Produto Interno Bruto (PIB) per capta de R$ 20.417,14, segundo o IBGE, a economia de Salvador é baseada no setor de serviços. Essa área engloba o comércio, turismo e a realização de festas públicas, por exemplo.

Esse setor foi o mais prejudicado por causa da pandemia de covid-19. De acordo com a Pesquisa Anual de Serviços (PAS) de 2020 no Brasil, as empresas perderam cerca de 330 mil funcionários. O turismo também foi afetado pela crise sanitária. Segundo a PAS, agências de viagens, operadores turísticos e outros serviços na área tiveram redução de 28,4% no quadro de funcionários.

Esse cenário, na avaliação do geógrafo Gilton, atingiu em cheio a economia de Salvador e também foi um motivo para que as pessoas se mudassem.

"A permanência da pandemia por dois anos praticamente paralisou esse setor de de serviços, de eventos, e de encontros empresariais de Convenções. Agora, em 2023, a gente já percebe uma volta deste setor, mas ainda é tímido", constatou o professor.

Desindustrialização

Outro ponto que fomentou o êxodo metropolitano de Salvador foram os reflexos na economia gerados pelo fechamento da fábrica de veículos Ford, ainda na pandemia, em janeiro de 2021. A montadora ficava localizada no município de Camaçari, na Região Metropolitana da capital baiana.

"Muita gente que trabalhava na Ford morava em Salvador. Então, muitas dessas pessoas mudaram de cidade", falou o professor.

Para onde vão

Regiões da Bahia que ofereçam fatores como baixo custo de vida, segurança e, sobretudo, pujança econômica, tem atraído essa população que saiu de Salvador. Gilson Carmo cita o desenvolvimento do agronegócio no oeste e no norte baiano e o turismo da Chapada Diamantina como zonas recebem antigos moradores de Salvador.

"Na Chapada, a qualidade de vida em cidades como Mucugê e lençóis têm recebido muita gente de Salvador para morar. Esses locais são caracterizados pelo turismo. Já no oeste, municípios como Barreiras e Luís Eduardo Magalhães, conhecidos por serem o Oasis da Bahia, têm atraído pessoas de Salvador. Ainda no norte, o município de Juazeiro, conhecido pela pujança da fruticultura irrigada, também vem se mostrando um polo de atração", exemplificou o geógrafo.