A escritora Marcela Bosa é enfática ao dizer que uma mulher trans não "se transforma, apenas se descobre". Isso a levou a escrever sobre suas experiências de vida — não somente as dores e sofrimentos, mas também as vitórias e as alegrias. Entrevistada do Podcast do Correio, já disponível nas plataformas digitais, ela lança exatamente no Dia Internacional do Orgulho LGBTQIA+, que é celebrado nesta quarta-feira, um livro que classifica como um "guia" para as pessoas não cometerem gafes diante de uma mulher trans.
Marcela sabia, desde criança, que não se enquadrava no gênero que lhe foi designado. Mas até chegar ao ponto de virada, foi uma trajetória difícil. Sobretudo porque, primeiro, teve de criar coragem para buscar mais informações e entender, de fato, como se identifica — o que, conforme salienta, veio por meio de muita reflexão e terapia.
Ela oculta o nome de batismo não para fugir do passado, mas, sim, para reforçar a condição atual. "Não tenho vergonha de quem eu fui: o menino que deu origem à Marcela. Mas já foi. Já deu", explicou Marcela, que fala sobre isso no livro intitulado MA. Eu. Mulher. Trans.
Segundo Marcela, a obra começou a ser escrita há alguns anos, mas o processo só tomou impulso depois de assistir a participação da cantora Linn da Quebrada no Big Brother Brasil (BBB) 22. Ver os participantes errando o pronome de Linn, que tatuou na testa, gerou em Marcela uma necessidade de abordar o assunto. "Preciso aproveitar a minha história, minha vivência, já que eu tenho uma certa idade e que tenho uma certa noção da dor da vida", afirmou.
A relação com a família é assunto delicado. Marcela tem pouco contato com a mãe e não fala com o pai. Originária de uma família conservadora do Paraná, ela conta que foi privada de ir ao enterro de um tio de quem era próxima. "Ele me ensinou a dirigir, éramos muito próximos. Não deixaram eu me despedir dele. É triste", lamentou.
MA. Eu. Mulher. Trans, que retrata a história de como Marcela se descobriu mulher, tem o objetivo de normalizar a existência das pessoas trans. Ela lembra que o Brasil é o país que mais mata pessoas transexuais, mas, ao mesmo tempo, é o maior mercado consumidor de pornografia relacionada a esse grupo. O livro serve, ainda, para desfazer o imaginário popular que costuma associar mulheres trans a uma imagem sexualizada e promíscua.
*Estagiário sob a supervisão de Fabio Grecchi
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