O ministro substituto da Saúde, Swedenberger Barbosa, lamenta que o discurso antivacina dos últimos anos tenha comprometido o Programa Nacional de Imunização, que já foi uma das melhores políticas públicas do mundo. A cobertura vacinal no país, que já chegou a 90% da população, está, agora em pouco mais de 60%. "Nós vamos reverter isso. Queremos convencer a população da necessidade imperiosa de vacinar", disse Barbosa, na entrevista que deu ao CB Poder — uma parceria do Correio com a TV Brasília.
Na conversa com a jornalista Denise Rothemburg, o ministro interino (a titular, Nísia Trindade, está em viagem ao exterior) também falou sobre o financiamento do SUS, as filas para cirurgia na rede pública, a crise humanitária que aflige o povo ianomâmi, em Roraima. Também comentou sobre o apetite do Centrão em assumir o comando da pasta.
O Ministério da Saúde está sob ataque especulativo do Centrão. Houve uma pressão para troca de ministro, mas o presidente Lula segurou, disse que não vai substituir a ministra. E estamos às vésperas da 17ª Conferência Nacional de Saúde, de 2 a 5 de julho, aqui em Brasília. O que o ministério tem de tão bom que o Centrão está de olho?
Eu acho que o ministério é sempre uma uma área muito cobiçada, não apenas pelo chamado Centrão, como por quaisquer segmentos da política que têm interesse em dirigir o órgão com um dos maiores orçamentos da República, com programas importantíssimos, com um Sistema Único de Saúde de uma capilaridade extraordinária, o maior programa de saúde pública universal do mundo. É um conjunto de situações que agradaria a qualquer pessoa administrar. O mais importante disso é a decisão, pessoal e política do presidente da República de colocar e manter, no ministério, uma pessoa como a ministra Nísia, que tem compromisso público com esse sistema, que quer fortalecer o SUS.
O que esperar da Conferência Nacional de Saúde?
Será a conferência mais ampla que a gente está fazendo nesse tempo todo. São mais de 6 mil pessoas como delegados e convidados. O presidente Lula não apenas participará como quer que todos os ministros estejam presentes. Eu me lembro da 8ª conferência, em 1986, em que foram colocadas as bases para a formação do SUS. O que falta fazer para termos um sistema mais amplo? Por que a gente vê que as filas continuam e as pessoas custam, às vezes, a ter um atendimento? O que falta, recurso ou gestão?
Teremos essas respostas?
O SUS é sempre um processo em construção. Isso significa retomar programas importantíssimos que haviam sido deixados para trás, por exemplo, o Mais Médicos. Nós estamos, agora, colocando mais 20 mil médicos, pelo menos, para poder retomar o programa, que tinha sido abandonado. Isso significa ter acesso a uma quantidade enorme de municípios que estavam sem novas equipes e serviços, para programas como o Brasil Sorridente, que tinha sido deixado de lado. Agora, vamos ter 3.685 unidades do Brasil Sorridente, entre equipes de serviço, que, de imediato, devem atingir 10 milhões de pessoas. No Farmácia Popular, por exemplo, incluiremos o atendimento à população indígena, que não tinha acesso a determinados medicamentos, como anticoncepcionais, remédios para cuidar de osteoporose, questões que dão dignidade menstrual à mulher.
Tem algum programa sob risco de descontinuidade por causa das restrições orçamentárias?
Neste ano, até agora, não. Houve um acréscimo ao nosso orçamento, num esforço feito pelo então presidente eleito, na equipe de transição. Não é que a gente tenha dinheiro suficiente para tudo, mas, em 2023, nós estamos conseguindo cobrir ações como essas que mencionei. Mas nós já estamos na luta para ter um melhor orçamento em 2024.
Sofremos muito com a pandemia de covid-19. O senhor vê riscos desse cenário se repetir com essa ou outras doenças?
Com certeza. Nós não podemos simplesmente comemorar e ficar tranquilos em relação à situação sanitária internacional. A própria ministra Nísia, quando era presidente da Fiocruz, já tinha sido convidada para uma comissão Internacional, na OMS, para tratar dos próximos eventos e emergências sanitárias no mundo. Nós, internamente, vamos dar respostas a isso. Vamos mostrar para a sociedade como se prevenir, que medidas a gente deve adotar.
O mundo custou muito a perceber a gravidade da pandemia. No Brasil, teve gente que pensava ser esse um problema da China...
Deve ser feito aquilo que não foi feito pelo governo anterior. Quando há um alerta internacional vindo da OMS, cada país, com a responsabilidade sanitária que tem, deve buscar mecanismos de proteção a sua população. O governo anterior desacreditou as vacinas e as medidas de proteção, como o uso de máscara, os hábitos de assepsia, o distanciamento. Mais do que isso, fez com que uma parte da população acreditasse que havia medicamentos milagrosos e que as vacinas poderiam colocar a vida em risco, com fake News muito violentas. Um desserviço público. Se isso tivesse sido tratado de outra maneira, seguramente algumas milhares de vidas estariam entre nós, hoje, não teriam morrido de covid-19.
No caso de emergências, o ministério está preparado para, rapidamente, tentar evitar a propagação de um vírus ou de uma uma bactéria?
Nós reativamos todos os nossos espaços de diálogo. A Secretaria de Vigilância Sanitária e Ambiental, por exemplo, tem feito reuniões internacionais com grupos de países para que a gente possa fazer esse consórcio de enfrentamento. No âmbito interno, o ministério tinha aberto mão do seu papel de coordenador da relação interfederativa, que nós retomamos.
A população está se vacinando cada vez menos, tem gente que acha que nem precisa mais tomar vacina. Como reverter essa situação?
A palavra de ordem, é "vamos vacinar". A vacina salva vidas, e não se trata apenas da covid. O nosso programa nacional de imunização, que já foi considerado o maior e melhor programa de imunização do mundo, sofreu abalos nesses últimos anos. Hoje, se questiona a vacina contra a covid, mas, também, tem pais que não levam as crianças, por exemplo, para vacinar contra poliomielite. Isso é uma agressão à própria infância, que é desprotegida.
Como chegamos a esse ponto?
Isso é fruto de um período em que houve uma disputa de narrativa muito forte, onde se inventou que a vacina não fazia bem à saúde, que gerava consequências negativas para a vida das pessoas, que podia levar até à morte. Esse tipo de situação fez com que, nesses últimos períodos agora, nós, que chegamos a ter mais de 90% de adesão à vacinação no país, estivéssemos, atualmente, com 62%, 63%. Nós vamos reverter isso. Queremos convencer a população da necessidade imperiosa de vacinar. Eu peço a todas e a todos que ainda não foram vacinar, vacinem-se! Isso salva vidas. Acredite no que o Ministério da Saúde está falando para vocês, por favor.
Sobre as filas para cirurgias no SUS, quando o problema vai ser resolvido?
Fizemos um cálculo inicial e liberamos recursos da ordem de R$ 2 bilhões para reduzir drasticamente as filas, tanto de cirurgias como de consultas. Estamos com esse processo garantido. De imediato, nós já liberamos R$ 600 milhões. É prioridade do nosso governo fazer com que isso não tenha descontinuidade.
No início do governo, tivemos a crise de saúde na Terra Indígena Yanomami. Como está essa situação em Roraima?
A crise ianomâmi é uma situação humanitária muito triste. Os ianomâmis foram submetidos a um crime, que foi praticado pelos garimpeiros ilegais. Já colocamos lá, permanentemente, a nossa frente de profissionais da área de saúde, com quase 200 médicos, não apenas para o período da crise. Essa não é uma crise temporária. Temos que ter uma solução estrutural do Estado brasileiro.
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