A alta dos casos de gripe aviária no Brasil acendeu um alerta no governo, em meio a um surto da doença nas Américas. Pouco mais de um mês após a confirmação do primeiro caso, 32 focos já foram identificados no país. A maior preocupação é com a chegada da gripe, causada pelo vírus H5N1, na cadeia produtiva, o que pode causar um prejuízo bilionário no setor avícola. Os casos preocupantes são classificados como Influenza Aviária de Alta Patogenicidade (IAAP), e envolvem subtipos do vírus que causam alta taxa de mortalidade, de forma súbita.
Até o momento, apenas aves silvestres foram acometidas. Ao Correio, o Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa) esclareceu que o risco de que a doença chegue à produção é considerado alto. A pasta explicou que monitora os alertas suspeitos e realiza exames para confirmar ou descartar a infecção. Segundo painel de monitoramento criado pelo ministério, 1.321 investigações foram realizadas até o momento, com 252 utilizando coleta de amostras. Das suspeitas, 32 foram confirmadas desde 15 de maio.
Plano de Contingência
"Nos focos, as ações são desencadeadas de acordo com o Plano de Contingência para influenza aviária, que inclui investigação em torno dos focos para identificação de aves com suspeita. Ações de comunicação com o objetivo de alertar a população a não tocar ou recolher aves mortas estão sendo massivamente veiculadas, bem como ações de alerta de melhoria da biosseguridade nas criações de aves", explicou a pasta.
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Os produtores também têm papel essencial para conter a doença. Segundo o Mapa, a recomendação é que eles fiquem atentos e notifiquem ao serviço veterinário local todas as suspeitas de influenza aviária (veja os sinais ao lado).
Os casos confirmados se concentram no litoral norte de São Paulo, no Rio de Janeiro, Espírito Santo e no litoral Sul da Bahia. Fora da região, um foco foi encontrado no Rio Grande do Sul. Alguns municípios colocaram aves em isolamento. Na capital paulista, o Parque da Água Branca isolou 2 mil aves para evitar a contaminação. O mesmo foi feito em Santos. Também participam do monitoramento da doença, a nível federal, os ministérios do Meio Ambiente e da Mudança do Clima e o Ministério da Saúde.
Aves Migratórias
O professor da Faculdade de Agronomia e Medicina Veterinária da Universidade de Brasília (UnB) Francisco Ernesto Moreno Bernal explica que as aves encontradas até o momento são migratórias, e novos casos devem continuar aparecendo. Ele destaca, porém, que as medidas de segurança seguidas pelos produtores são rígidas.
"Só (chega à produção) se acontecer alguma imprudência, ou se alguma ave migratória desce em um plantel. Por enquanto, estão no litoral, longe dos grandes criadores. Pode pousar em uma criação de fundo de quintal, em um assentamento. Essas aves migram para o Rio Grande do Norte, para o Pantanal, Rio Grande do Sul", explicou o professor.
O diretor de comunicação de Comunicação e Relações Públicas do Sindicato Nacional dos Auditores Fiscais Federais Agropecuários (Anffa Sindical), Antonio Andrade, alerta para o prejuízo econômico que a doença pode acarretar. Segundo estudos realizados pela Fundação Getúlio Vargas (FGV) a pedido do sindicato, as perdas diretas e indiretas podem somar R$ 13 bilhões caso a influenza aviária chegue ao plantel comercial e não seja imediatamente contida.
"O Brasil nunca teve um caso do vírus em lintéis comerciais. As medidas de segurança em defesa agropecuária, os programas desenvolvidos pelo Mapa e as medidas de biossegurança por parte dos produtores proporcionam esse status", disse Antônio. Os auditores fiscais federais agropecuários são os servidores responsáveis pela fiscalização, análise, coordenação e elaboração de planos de controle. As análises de aves na região da Mata Atlântica, onde a maioria dos focos confirmados se encontra, são realizadas no Laboratório Federal de Defesa Agropecuária, em São Paulo. Mais de 40 mil ensaios laboratoriais já foram realizados.
Reforço necessário
Antonio Andrade frisa que a defesa agropecuária brasileira é reconhecida mundialmente e muito capacitada para agir em casos como esses, mas que esse cenário é mantido com dificuldade. Para o sindicato, há uma defasagem de servidores no setor, que conta com apenas 2.400 auditores fiscais federais, 200 a menos do que em 2001, quando o valor da produção agropecuária era um terço do atual.
Ele destaca também a intermitência e insuficiência de recursos destinados à defesa agropecuária, bem como a deficiência de recursos em tecnologia da informação (TI). Um relatório do Tribunal de Contas da União (TCU) apontou que a qualidade da TI do Mapa está abaixo da média dos outros ministérios.
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