A posse do ambientalista Mauro Pires, ontem, na presidência do Instituto Chico Mendes (ICMBio), Mauro Pires, foi, sobretudo, um desagravo à ministra do Meio Ambiente e Mudança do Clima, Marina Silva. Isso porque, nos últimos dias, ela entrou na berlinda por conta do embate dentro do governo com o ministro das Minas e Energia, Alexandre Silveira, e com o presidente da Petrobras, Jean Paul Prates, contra a exploração de petróleo na foz do Rio Amazonas. Além disso, duas medidas provisórias — a da Mata Atlântica e a da reestruturação do organograma do governo federal — foram profundamente alteradas na Câmara. A leitura que os bastidores da política fazem é que aproveitaram a votação das duas MPs para enfraquecer Marina ainda mais.
Pires foi enfático ao criticar o texto aprovado para a MP 1.108/22, que trata da reestruturação do governo federal e esvazia as atribuições do Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima (MMAMC). Segundo ele, os parlamentares aprovaram uma versão — elaborada pelo deputado Isnaldo Bulhões (MDB-AL), que é muito ligado a Arthur Lira (PP-AL) — que é "contra a vida".
"É simbólico até esse evento ser hoje (ontem), depois do dia de ontem (quarta-feira). A gente está defendendo a vida, o presente. Como podem ser contra isso?", questionou.
Ele também elogiou a disposição de Marina de enfrentar os parlamentares, horas antes das votações das duas MPs, na audiência na Câmara — quando chamou o agronegócio de "ogronegócio", para irritação dos deputados da bancada ruralista. "O governo vai apostar nessa transição (para agricultura de baixo carbono). Para que a gente tire o agronegócio brasileiro da condição de 'ogronegócio'. Porque uma boa parte já está fazendo o dever de casa, e a parte que não faz, contamina todo resto", disse a ministra.
Por sinal, Marina e o presidente do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), Rodrigo Agostinho, estivera, na posse de Pires para deixar claro que há uma coesão entre o ministério e as duas principais autarquias que estão sob o comando da pasta.
"Agradeço ao presidente Lula por estarmos aqui, inclusive resgatando a origem de como se escolhe o presidente do ICMBio, que é pelo Comitê de Busca. Só é possível a posse do Mauro por causa do trabalho desse comitê. Isso só é possível porque a democracia venceu. Só é possível porque, na democracia, as instituições funcionam, os processos republicanos funcionam", salientou Marina, deixando clara a afinidade entre ela e Pires.
O presidente do ICMBio sinalizou que intensificará os esforços para liberar concursos a fim de recompor o quadro funcional do instituto, que teria sofrido um desmonte de pessoal, conforme denunciam autoridades ligadas ao meio ambiente. "Temos um compromisso com a recomposição do quadro. Esperamos que isso aconteça nos próximos dias", anunciou.