Reconhecimento

'Reconhecimento vem mais de fora', diz único brasileiro em lista da 'Time'

O jornalista, ativista, empreendedor social e fundador da Voz da Comunidade, Rene Silva, foi escolhido pela revista norte-americana como um dos líderes da nova geração

Nascido no Complexo do Alemão, no Rio de Janeiro, Rene Silva, 29 anos, ganhou visibilidade em novembro de 2010 ao relatar pelo Twitter, a operação realizada pelas forças policiais de tomada do bairro. O episódio, que teve uma estrutura de guerra com tanques, blindados e helicópteros, tomou conta dos noticiários do país e os tuítes do jovem de 16 anos acabou se tornando uma das principais fontes de informação sobre a ação.

O trabalho do jornalista, ativista, empreendedor social e fundador da Voz da Comunidade, uma ONG que desenvolve trabalhos por meio das áreas de impacto social e jornalismo comunitário, no Complexo do Alemão, passou a ser reconhecido internacionalmente.

A revista Time divulgou nesta terça-feira (23/5) a lista Next Generation Leaders 2023 ("líderes da nova geração", em tradução livre) e Rene Silva foi um dos dez escolhidos pela publicação, se tornando o sétimo brasileiro a aparecer na seleção.

Antes dele foram escolhidos a modelo e ativista pela energia nuclear Isabelle Boemeke, homenageada em 2022, a cantora Iza e deputada Erika Hilton, em 2021, Pabllo Vittar e o falecido ex-deputado David Miranda, em 2020, e a empreendedora Bel Pesce em 2014.

Ao Correio, Rene se disse muito honrado em ter seu nome escolhido para integrar a lista de 2023.

"É uma honra muito grande estar nessa lista e ser o único brasileiro é uma honra ainda maior, principalmente para mostrar para a sociedade que um jovem, negro e favelado pode, sim, ser uma referência para o Brasil e para o mundo", pontuou o jornalista.

Ele destacou, no entanto, a falta de reconhecimento dentro do próprio país: "É triste pensar que esse tipo de reconhecimento ainda vem muito mais de fora do que de dentro, mas há uma esperança de um futuro melhor para nossos jovens e adolescentes".

O ativista condenou, ainda, a falta de investimento e a marginalização das favelas. "A gente está cansado de ser visto pela ótica da grande mídia que sempre mostra tráfico de drogas, violência e mortes e pelo Estado que só faz operações policiais na favela, ao invés de investir em transformação do território e dos jovens com mais acesso à educação de qualidade", apontou.

Sobre o convite a integrar a lista dos líderes da nova geração, o fundador da Voz da Comunidade relatou que foi contatado pela editora-chefe da revista Time para uma entrevista, mas foi surpreendido pelo motivo.

"Ela disse que iria fazer uma reportagem comigo e no meio da entrevista ela contou que era para uma lista anual da revista que conta história de 10 Lideranças da geração. Eu fiquei muito emocionado na hora e pensei que esse é o momento da gente mostrar que da de onde eu vim, tem muitos outros querendo vir também, vencer e conquistar o mundo", destacou.