RACISMO

"Simulador de Escravidão": jogo reúne racistas e discurso de ódio

Até a manhã desta quarta-feira (24/5), mais de mil downloads já tinham sido feitos na plataforma do Google, a PlayStore. Usuários deixaram comentários perversos e criminosos

Luana Patriolino
postado em 24/05/2023 12:48 / atualizado em 24/05/2023 15:33
 (crédito: Reprodução)
(crédito: Reprodução)

Em meio às discussões sobre o racismo no Brasil e no mundo, um jogo disponível na plataforma de distribuição digital do Google, a PlayStore, choca por conta da crueldade e do discurso de ódio contra as pessoas negras: um game, chamado de “Simulador de Escravidão”, oferecido pela MagnusGames. Até a manhã desta quarta-feira (24/5), eram mais de mil downloads e 70 avaliações, além de reunir comentários perversos e racistas de usuários do serviço.

O Correio acessou a plataforma e constatou a gravidade da situação. Um perfil, identificado como “Mateus Schizophrenic”, sugere até mesmo que sejam criadas outras funcionalidades para o jogo, como, por exemplo, adição de novos métodos de tortura aos negros. “Ótimo jogo para passar o tempo. Mas acho que faltava [sic] mais opções de tortura. Poderiam estalar [sic] a opção de açoitar o escravo também. Fora isso, o jogo é perfeito!”, escreveu.

Outro usuário, identificado como Vitor Benício vai na mesma linha racista e diz que devem ser colocadas novas interações no game. “O jogo é bom, mas tem que haver algumas alterações como na venda e compra”, avaliou no PlayStore.

A reportagem entrou em contato com o Google para questionar se a big tech vai tomar providências diante do caso. Por meio de nota, empresa disse que não permite aplicativos que “promovam violência ou incitem ódio contra indivíduos ou grupos com base em raça ou origem étnica” ou que “retratem ou promovam violência gratuita ou outras atividades perigosas” e excluiu o jogo da plataforma.

OAB vai cobrar providências

O presidente da Comissão de Igualdade Racial da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) do Distrito Federal, Beethoven Andrade, definiu o caso como “estarrecedor e inacreditável”. Ao Correio, ele afirmou que a entidade vai cobrar providências do Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT) e do Ministério Público Federal (MPF). O órgão também deve oficiar o Google.

“O período de escravização ainda reflete sobre negros no Brasil, e isso não pode, em qualquer hipótese, servir como forma de entretenimento, porque ainda resulta em dor, sofrimento e apagamento. O combate ao racismo exige seriedade e participação das instituições e esse tipo de jogo não deveria ter sido aceita em uma plataforma aberta, sobretudo a jovens”, disse Andrade.

“Há clara violação aos preceitos de combate ao racismo, aos princípios de igualdade e valorização da pessoa, o que resulta em punição, não apenas com o banimento da plataforma, mas na esfera penal, à luz legislação correlata”, destacou o presidente da comissão.

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