"Pra começar a investir não precisa ter muito dinheiro, mas primeiro tem que organizar as contas", diz, na frente da câmera do celular, o influenciador Murilo Duarte, na sala de sua antiga casa em uma favela da cidade de São Paulo.
Este jovem, de 28 anos, conhecido como "Favelado Investidor", é um dos bem-sucedidos influenciadores de finanças que se multiplicam nas redes sociais no Brasil, aproximando a educação financeira inclusive das pessoas de menor renda.
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O projeto nasceu "com o propósito de democratizar o acesso à educação financeira e ao investimento, principalmente para uma classe social que, na minha opinião, foi muito esquecida na sociedade", afirma Duarte, de braços tatuados e cabelo raspado nas laterais.
Formado em contabilidade, com seus ganhos como aprendiz em um cartório, o influenciador cofundou uma empresa de treinamento financeiro em 2019, que já tem 12 funcionários, cursos e patrocinadores.
"Com muito trabalho, pode chegar aonde você quiser, independentemente de onde você veio", diz aos seus mais de um milhão de seguidores, distribuídos sobretudo entre YouTube, Instagram e TikTok.
Duarte os motiva a transformar suas vidas com seu próprio exemplo: ele saiu da favela Jardim João XXIII, na periferia oeste de São Paulo, e foi morar em um bairro nobre, ganhando seu primeiro milhão de reais em 2021.
Economia do dia a dia
O universo dos 'finfluenciadores', que também inclui analistas e 'traders', contava, no fim de 2022, com cerca de 1.257 perfis e 165,7 milhões de seguidores, de acordo com um relatório da Associação Brasileira de Entidades do Mercado Financeiro e de Capitais (Anbima).
Esses números representam um aumento significativo em poucos meses, impulsionado pelo "crescente interesse do público brasileiro por informações sobre investimentos e finanças pessoais", explica Amanda Brum, gerente-executiva de Comunicação e Marketing da Anbima.
Isso ocorre porque, no Brasil, um dos países com maior consumo de redes sociais do mundo, os gurus que fazem recomendações para aumentar a renda também atuam como conselheiros econômicos para problemas domésticos, como a inflação (4,18% nos últimos 12 meses até abril).
Clayton Silva, seguidor do Favelado Investidor e morador da comunidade, conta que estava "muito preocupado com as dívidas e as subidas dos preços, especialmente dos alimentos", problemas comuns entre as famílias vulneráveis.
"Ele deu dicas valiosas, e realmente mudou a minha mente em relação ao que penso sobre o dinheiro, deixei de viver endividado e agora estou fazendo a minha reserva de emergência" para momentos difíceis, afirma Silva, um motorista de 28 anos, pai de dois filhos.
O próximo passo, diz entusiasmado, será investir em grandes empresas da Bolsa de Valores de São Paulo (B3), assim como já fizeram muitos individualmente no maior mercado financeiro da América Latina.
Lá, o número de pessoas que investem em renda variável (ações) subiu para 5 milhões em 2022 (+19% em relação a 2021), com especial participação dos jovens, destaca Felipe Paiva, diretor de Relacionamento com Clientes e Pessoas Físicas da B3.
Das redes para Brasília
Educadores financeiros explodiram durante o confinamento da pandemia, "quando a taxa de juros estava em 2% [histórico] e os investidores buscavam maior rentabilidade" em outros investimentos, aponta Marilia Fontes, sócia-fundadora da firma de investimentos Nord Research e uma das vozes femininas mais ouvidas nas redes.
Desde então, a popularidade dos influenciadores cresceu, tornando-os figuras que transcendem o mundo virtual.
Nathália Rodrigues, a youtuber de 24 anos conhecida como "Nath Finanças", nascida na periferia do Rio de Janeiro, alcançou com seu conteúdo cinco milhões de pessoas em várias plataformas.
Seu carisma e posicionamento - embora atrás dos 10 influenciadores de finanças mais seguidos no país, todos homens - renderam a ela um assento no Conselho de Desenvolvimento Econômico Social Sustentável do governo de Luiz Inácio Lula da Silva, que reúne 242 membros da sociedade para contribuir com políticas públicas.
Não são apenas os conhecimentos ou credenciais que geram confiança nos 'finfluenciadores': a empatia desempenha um papel importante.
"Nas redes sociais, os influenciadores são pessoas falando com pessoas, cara a cara. Assim, o público se identifica melhor e sente mais confiança", avalia Brum.
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