FATALIDADE

Torre de energia não era obstáculo previsto para avião de Marília Mendonça

Investigação da Aeronáutica atesta que queda do avião ocorreu após colisão com cabos energéticos, mas diz que torre não se enquadrava em obstáculo por estar em espaço fora de espaço de decolagem ou pouso

Talita de Souza
postado em 16/05/2023 00:15
 (crédito:  -)
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O relatório final sobre o acidente aéreo que causou a morte da cantora Marília Mendonça, em 5 de novembro de 2021, em Minas Gerais, confirmou que a aeronave em que a artista estava caiu após colidir com cabos de energia da linha de transmissão da Companhia Energética de Minas Gerais (Cemig). O documento, produzido pelo Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Cenipa) da Aeronáutica, foi divulgado na noite desta segunda-feira (15/5).

“O primeiro impacto da aeronave ocorreu contra um cabo para-raios localizado no vão entre as torres 8 e 9 da linha de transmissão 69 kV Caratinga - PCH 'Pipoca'. Segundo relatos de observadores, após o impacto contra o cabo, a aeronave teria entrado em atitude anormal, com grandes variações angulares de atitude e inclinação”, detalha o relatório.

O avião colidiu contra um “terreno rochoso”, às margens de uma cachoeira, “carta de 730 metros à frente do cabo para-raios”. No entanto, o relatório afirmou que a linha “não se caracterizava como um obstáculo que pudesse causar efeito adverso à segurança ou regularidade das operações aéreas”, já que encontrava-se fora dos limites da Zona de Proteção de Aeródromo (ZPA), tinha altura inferior a 150 metros e estava fora das superfícies de aproximação ou decolagem.

Por esse motivo, o objeto não estava listado e não era elegível para “publicação de informações” no aeródromo de Caratinga, região em que ocorreu o acidente. O mesmo documento atestou que uma “avaliação inadequada” do piloto Geraldo Martins de Medeiros contribuiu para o acidente, já que foi constatado que ele começou a manobra de pouso — a aproximação com o solo — a uma distância muito maior do que o recomendado para aeronaves do porte que ele comandava.

O Cenipa atestou que, apesar da linha de transmissão não estar listada como informações importantes para o aeródromo — de forma que ficaria no radar dos pilotos —, a linha aparecia em duas cartas aeronáuticas que o piloto tinha acesso durante o voo — a World Aeronautical Chart (WAC), considerada uma carta aeronáutica mundial) 3189 e na Carta Aeronáutica de Pilotagem (CAP) 9453.

De acordo com o relatório, a CAP é um documento que busca atender “às necessidades do voo visual para operações aéreas a baixas altitudes e a curtas distância”, além de atender, “também, a outras atividades da aviação civil de pequeno porte”.

O documento definiu como “provável” fator contribuinte a “não utilização das cartas aeronáuticas disponíveis, que tinham por finalidade atender as necessidades do voo visual”. A não utilização desses “guias” pode ter contribuído, de acordo com o Cenipa, “para uma baixa consciência situacional acerca das características do relevo no entorno do aeródromo de SNCT (Caratinga) e da presença da linha de transmissão que interferiu na aproximação para o pouso da aeronave”.

O Cenipa detalha que a linha de transmissão “possuía baixo contraste em relação à vegetação ao fundo”, o que dificultava a visualização dos cabos. No entanto, “a torre que sustentava a linha estava sobre uma área elevada e apresentava um contraste mais favorável à sua identificação”.

Como recomendação de segurança, o Cenipa sugere à Cemig que, “em caráter excepcional”, o órgão sinalize a linha de transmissão que causou o acidente. Pela recomendação, o advogado da família do piloto Geraldo Martins, Sérgio Alonso, diz que o relatório atesta a responsabilidade da Cemig no acidente.

“O relatório da Cenipa é favorável e confirma a nossa tese de que o avião bateu pelo fato do cabo não estar sinalizado. Ela plantou um risco sem sinalização. Mesmo que a torre esteja fora da zona de proteção, ela está por 800 metros. Não são nem 10 segundos para o avião passar. Por que ela não teve o bom senso de sinalizar? Ela correu o risco”, disse o advogado ao jornal O Globo.

O Correio entrou em contato com a Cemig, mas não obteve resposta até a última atualização desta matéria. O espaço permanece aberto para eventual manifestação.

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