Embora a Organização Mundial da Saúde (OMS) tenha declarado, ontem, o fim da emergência de saúde, por causa da pandemia de covid-19, o Ministério da Saúde não vai baixar a guarda. Segundo a ministra Nísia Trindade, a vacinação ainda é essencial e ressaltou que o novo cenário epidemiológico "não significa o fim da circulação" do coronavírus — sobretudo porque não representa que não apareçam novas variantes.
"A vacinação segue como ação fundamental, o vírus não acabou. Precisamos da mobilização de todos para ampliar a cobertura vacinal e combater a desinformação que questiona a segurança e a eficácia dos imunizantes", frisou Nísia. Para enfatizar a necessidade de prosseguir com a campanha de vacinação, Nísia lembrou que a covid-19 matou 701.494 pessoas e que somente no Brasil houve 37,4 milhões de casos registrados.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva também enfatizou que é necessário continuar com a imunização contra o novo coronavírus. "Depois de três anos, hoje (ontem), finalmente, podemos dizer que saímos da emergência sanitária pela covid-19. Infelizmente, o Brasil passou da marca de 700 mil mortos pelo vírus. E acredito que ao menos metade das vidas poderiam ter sido salvas se não tivéssemos um governo negacionista", tuitou.
Como respaldo à orientação o ministério, o mais recente boletim InfoGripe, elaborado pela Fundação Oswaldo Cruz, indica que em 17 estados houve aumento de casos de covid-19 em adultos. Christovam Barcellos, sanitarista da Fiocruz e coordenador do Observatório da Covid-19 — que foi extinto ontem em função da decisão da OMS — explica que a mudança internacional de status de pandemia para epidemia aumenta a responsabilidade do Brasil no combate à circulação do vírus.
"Com o fim da emergência mundial, significa que cada país terá que tomar conta das tarefas da epidemia que ainda ficou. Agora, temos que incorporar algumas medidas de proteção permanentemente no SUS (Sistema Único de Saúde) e na rede privada hospitalar. Significa que todo mundo vai ter que prestar atenção aos sintomas", observou.
Segundo Christovam, a observação do vírus "passa a ser um serviço do sistema de saúde levantar suspeitas com os médicos sobre a doença, com testagens, confirmações e notificações. Do lado do ministério, deve melhorar o sistema de informação para capturar e identificar as situações de risco".
A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) também continuará acompanhando de perto o quadro sobre a covid-19. Por causa disso, promoveu, esta semana, um seminário cujo objetivo é consolidar as ações adotadas no enfrentamento à pandemia. De acordo com a diretoria da autarquia, o objetivo é que o trabalho adotado na crise sanitária se torne uma política regulatória para a eventualidade de um quadro de surgir um novo quadro pandêmicos.
A observação do pesquisador da Fiocruz se deve ao fato de que, no governo Jair Bolsonaro, o enfrentamento à covid-19 foi considerado precário por vários especialistas em saúde pública. O ex-presidente defendeu que, para o tratamento do vírus, seriam suficientes doses de hidroxicloroquina e ivermectina — cuja ineficiência contra o novo coronavírus foi rapidamente confirmada.
Além disso, o ex-presidente fez campanha aberta contra a vacina — além de afirmar até hoje que jamais se imunizou, várias vezes atacou o fármaco e chegou a dizer que quem o tomasse poderia "virar jacaré" — e ignorou as medidas de proteção contra a disseminação do vírus. Negava-se a usar máscara e em várias oportunidades atacou o afastamento social recomendado pela OMS para evitar a transmissão da infecção.
Foram quatro os ministros da Saúde no governo Bolsonaro: Luís Henrique Mandetta, Nelson Teich, Eduardo Pazuello e Marcelo Queiroga. As vacinas contra a covid-19 começaram a ser distribuídas em 17 de janeiro de 2021.
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