O secretário Especial de Saúde Especial Indígena (Sesai), Weibe Tapeba, afirmou que um dos gargalos na saúde indígena no Brasil é a falta de hospitais de média e alta complexidade nos territórios indígenas (TIs). Durante seu discurso no Acampamento Terra Livre (ATL), em Brasília, nesta quinta-feira (27/4), ele disse que o departamento tem trabalhado para que, por meio do Programa de Apoio ao Desenvolvimento Institucional do Sistema Único de Saúde (Proadi-SUS), redes de hospitais com esse perfil cheguem até as aldeias.
“Tem alguns acenos importantes, grandes redes de hospitais, como a Rede Sarah, com esses hospitais nós temos uma legislação que permite, em um modelo de política de isenção fiscal, que eles apoiem, que invistam em alguns projetos sociais. Somente nesta gestão já conseguimos credenciar 15 hospitais de média e de alta complexidade”, disse.
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Tapeba informou que haverá a criação do Proadi- SUS indígena para atender essa demanda. A questão ficou em evidência com a crise sanitária do povo Yanomami, que, ao lidar com muitos casos graves de malária e desnutrição, precisou ser levado de avião para o atendimento na capital, em Boa Vista, Roraima.
Até o fim deste mês está prevista a construção de um Centro de Referência em Saúde Indígena dentro do território, no polo base de Surucucu, no extremo Oeste da reserva, próximo à fronteira com a Venezuela.
“No caso do povo Yanomami, nós implantamos um Centro de Referência, que é uma espécie de hospital de média complexidade, mas há uma decisão da [ministra] Nísia [Trindade] e do [presidente] Lula de que será construído um hospital permanente dentro do território Yanomami, e outro também em Boa Vista”, confirmou o secretário.
Em um recado direto às lideranças indígenas, Tapeba disse que essa sinalização “abre um bom precedente” para que os outros povos que tenham uma demografia com grande população indígena estudem suas regiões para solicitar a demanda e ter essa assistência também em seus territórios.
Diálogo estadual e municipal
O secretário admitiu que a Sesai só tem atuado na atenção primária junto aos povos indígenas e que, para o assunto da saúde de média e alta complexidade não seguir descoberto, é necessário o diálogo com os estados e municípios.
“Nós enfrentamos, nos últimos anos, um cenário de isolamento da Sesai. Ela já tinha a contradição de caminhar sozinha, mas nos últimos anos isso foi intensificado. A Sesai ficou só. As universidades foram afastadas, os entes federativos foram afastados, instituições sérias, como a Unicef, várias instituições que faziam compactuação com a Sesai foram afastadas. A nova Sesai que estamos construindo terá a contribuição de aliados e parceiros”, explicou.
Funai
O primeiro órgão que trouxe para perto foi a Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai). Tapeba revelou que, quando chegou na secretaria, havia um ambiente de disputa entre o setor e a instituição, que já foi desfeito. A ordem é para abrir o diálogo com todos que possam cooperar.
“A Sesai que estamos reconstruindo está aberta ao diálogo, para o regime de colaboração e cooperação, porque a saúde indígena não pode ficar somente no escopo, na atribuição e na responsabilidade da Sesai. Nós precisamos comprometer os estados, os municípios, as universidades, os pesquisadores, as instituições, Organizações Não-Governamentais que estão no território”, concluiu.