Por causa de uma série de invasões de terra ocorridas nesta semana, o governo federal decidiu adiar o calendário de apresentação do novo programa nacional de reforma agrária — que chegou a ser anunciado para ser divulgado este mês. Três ministros criticaram publicamente as ações do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST): Alexandre Padilha, da Secretaria de Relações Institucionais; Paulo Teixeira, do Desenvolvimento Agrário; e José Múcio Monteiro, da Defesa. Todos consideram que a Jornada de Lutas, realizada durante o mês, causou "estresse" entre o Poder Executivo e o movimento.
"Discordo de qualquer tipo de invasão de áreas produtivas, sobretudo de áreas que estão desenvolvendo pesquisas, como forma de luta. Acredito que o movimento tem outras formas de luta, que podem conquistar ainda mais a sociedade para uma causa tão importante, que é a reforma agrária", afirmou, ontem, o ministro da Secretaria de Relações Institucionais, Alexandre Padilha, à saída de um evento da Convenção Nacional das Assembleias de Deus Madureira (Conamad), em Brasília.
Questionado se o governo tomaria alguma medida para impor limites à atuação do MST — e, assim, evitar conflitos no campo —, Padilha disse que "o Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA) está, desde o começo, dialogando com a agricultura familiar e com os movimentos que estão na área rural para construir, juntos, um programa de fortalecimento de assentamentos".
Quem também manifestou descontentamento com as ações do MST foi Paulo Teixeira. Durante a semana, ele frisou que a reforma agrária só seria implementada caso o movimento liberasse as terras ocupadas. Segundo o ministro, o lançamento da reforma estava programado para o final do mês, e sendo acertado com a Presidência da República.
"Nós organizamos para lançar, em abril, um plano nacional de reforma agrária. Mas, quando aconteceu a ocupação de Alagoas (na sede do Incra), aquilo estressou muito a nossa relação. Depois, teve a ocupação da Embrapa e a reiteração da ocupação da Suzano estressou demais. O plano já estava na mesa dele (do presidente Lula)", afirmou Teixeira em entrevista ao jornal Folha de S.Paulo.
Ocupações
Duas áreas invadidas pelo MST pertencem à Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária), autarquia do governo federal, no Mato Grosso e em Pernambuco. Ao todo, segundo o movimento, foram 29 ocupações em abril. A situação foi amenizada a partir da quarta-feira, quando o movimento se comprometeu a desocupar as terras da Suzano, no Espírito Santo, e da Embrapa, em Pernambuco. Na quinta, representantes do MST reuniram-se com o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, em São Paulo — que não deu detalhes do encontro.
O coordenador nacional do MST, João Paulo Rodrigues, afirmou que o governo se comprometeu a dobrar o orçamento destinado ao assentamento de famílias acampadas, além de agilizar o uso de terras de devedores da União para a reforma agrária — como anunciado por Teixeira no início do governo. Para o movimento, a série de ações — além das 29 ocupações de terra, houve também audiências públicas, feiras, eventos e plantio de árvores — foi um sucesso.
O MST afirma que os atos ocorreram em 18 estados e mobilizaram aproximadamente 20 mil pessoas. Atos também foram realizados em 18 superintendências do Instituto de Colonização e Reforma Agrária (Incra).
"Nossa avaliação é que a jornada foi vitoriosa. Em toda a nossa história, só conseguimos conquistas com muita luta, e este ano não foi diferente. Nossa impressão geral é de abertura do governo para atender a nossa pauta", afirmou Ceres Hadich, integrante da direção nacional do MST.
A pressão do MST levou, também, à troca de 19 superintendentes do Incra (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária) e nomeação de pessoas ligadas ao movimento — que pretende, ainda, fazer indicações em Rondônia, Roraima, Alagoas, Tocantins, Amazonas, Amapá e Minas Gerais.