Jornal Correio Braziliense

Violência

Blumenau chora no enterro das crianças que morreram em ataque a creche

Blumenau chora no sepultamento das crianças que morreram no ataque a uma creche. Autoridades buscam respostas e ações

Quatro das cinco crianças que sobreviveram ao ataque na creche Cantinho Bom Pastor, em Blumenau (SC), receberam alta, ontem, e já estão em casa. A quinta deu entrada no hospital com ferimentos leves e foi liberada no mesmo dia. Os corpos das quatro crianças assassinadas pelo homem que invadiu a creche, armado com uma machadinha, foram velados de madrugada e sepultados, ontem mesmo, em dois cemitérios locais, em clima de muita comoção.

As homenagens às vítimas começaram ainda na noite de quarta-feira. Parentes, amigos e moradores fizeram uma vigília na porta da escolinha, com velas, incensos e flores. Também foram depositados bichos de pelúcia e desenhos de crianças. As capelas em que os corpos estavam sendo velados ficaram lotadas durante toda a madrugada. Morreram no ataque Bernardo Cunha Machado, 5 anos; Bernardo Pabest da Cunha, 4 anos; Larissa Maia Toldo, 7 anos; e Enzo Marchesin Barbosa, 4 anos.

O autor dos ataques, um homem de 25 anos, se entregou à polícia logo depois da tragédia. Na audiência de custódia, ocorrida ontem, ele teve a prisão preventiva decretada pelo juiz de plantão Eduardo Reis. O delegado da Divisão de Investigações Criminais de SC — responsável pelo caso — Ronnie Esteves informou que a investigação está tentando localizar quem possa ter relação com o autor do atentado que, aparentemente, não tem vínculo com a creche atacada, reforçando a suspeita de que o alvo foi escolhido aleatoriamente.

Peritos já começaram a analisar o aparelho celular e as redes sociais do homem preso, e os usuários que interagiam com ele no mundo virtual. Em depoimento, o autor do atentado disse que foi coagido por uma pessoa, já identificada pela polícia e que será intimada a prestar esclarecimentos nos próximos dias.

"Está muito recente, ainda, para que a Polícia Civil possa emitir uma opinião definitiva (sobre o andamento das investigações). As informações estão sendo já analisadas pela polícia, e a gente espera, em curto prazo, trazer para a sociedade a resposta de tantos questionamentos", disse o delegado em entrevista à CNN. Ele informou ainda que já colheu o depoimento da mãe do assassino confesso, que tem registros de passagem pela polícia por tentativa de homicídio, envolvimento em brigas e uso de drogas.

Câmeras de segurança

O prefeito de Blumenau, Mário Hildebrandt (Podemos), convocou uma reunião de emergência com diretores de todas as unidades de ensino públicas e privadas da cidade para debater medidas que possam melhorar a segurança de alunos e professores. O encontro, ontem, no Teatro Carlos Gomes, não teve a presença de público ou da imprensa, e contou com a participação de oficiais da Polícia Militar, da Polícia Civil, do Ministério Público, do Corpo de Bombeiros e da Secretaria de Educação do estado.

O prefeito anunciou que vai ampliar o número de câmeras de segurança nos arredores das escolas, integradas à Central de Controle Operacional da prefeitura. Um acordo com a PM vai permitir que a corporação tenha acesso às imagens. Nas unidades municipais de ensino, ele prometeu alocar psicólogos para prestar atendimento regular aos alunos. Também será criado um protocolo de emergência em conjunto com os órgãos de segurança para ser seguido em caso de ataques como o de terça-feira.

"É bom deixar claro que essa não é uma solução que vamos implantar do dia para a noite. É um conjunto de esforços que será colocado em prática o mais breve possível. Estamos criando, também, junto ao governo do Estado, algumas estratégias com a participação das forças de segurança para atuar nas unidades educacionais. Assim que esse plano estiver finalizado, vamos divulgar todos os detalhes", informou o prefeito por meio de sua assessoria de comunicação. Ele decretou luto oficial de 30 dias no município.

O secretário de Educação da cidade, Alexandre Matias, disse que as aulas serão retomadas após o feriado de Páscoa. "Estamos trabalhando juntos com diversos órgãos. De forma coletiva estamos buscando soluções para continuar e superar esse momento de crise, para que possamos voltar às aulas com tranquilidade na segunda-feira."

*Estagiária sob a supervisão de Vinicius Doria