Obituário

Morre Boris Fausto, historiador e escritor, aos 92 anos

Estudioso da História Política do Brasil no período republicano, Boris se debruçou ainda sobre a criminalidade em São Paulo no começo do século 20 e sobre a formação do pensamento autoritário no país

Correio Braziliense
postado em 19/04/2023 03:55 / atualizado em 19/04/2023 06:46
 (crédito: Carlos Fausto/Divulgaçao)
(crédito: Carlos Fausto/Divulgaçao)

Morreu o historiador, cientista político e escritor Boris Fausto. Autor de A Revolução de 1930 e de outros livros que marcaram a historiografia brasileira, ele tinha 92 anos. Estudioso da História Política do Brasil no período republicano, Boris se debruçou ainda sobre a criminalidade em São Paulo no começo do século 20 e sobre a formação do pensamento autoritário no país.

Doutor pela Universidade de São Paulo — onde se graduou em Direito, foi assessor jurídico e professor de Ciência Política —, Boris nasceu em 1930, em São Paulo, em uma família de imigrantes judeus. Com A Revolução de 1930, provocou mudança nas análises sobre o tenentismo e o fim da República Velha. Fausto via nos jovens militares um espírito que, "em grande linha, não era democrático". "Era militar como temos em nossa tradição. Era salvacionista e propugnaram a manutenção da ditadura do Getúlio (Vargas) tanto quanto possível", escreveu.

Seu livro o inseriu na lista de autores seminais da realidade brasileira, como Florestan Fernandes, Francisco Weffort e Fernando Henrique Cardoso.

O autor tinha afeto especial por outro de seus livros: História do Brasil, seu maior best-seller. "Tenho afeição por ele e acho que foi um marco que pode ser aproveitado. Mas muita coisa ali foi superada, como eu já superei, se fosse escrever uma nova história", contou.

Boris era o mais velho de três irmãos. O mais jovem — o médico Nelson — morreu em 2012; e o filósofo Ruy, em 2020. Resolveu então escrever sobre o tempo em que os três viviam no bairro paulistano de Higienópolis.

Vida, Morte e Outros Detalhes foi seu último livro. A certa altura, disse: "Acho que minha obra, como todas as coisas, sempre serão ultrapassadas. Tenho esperança que meus livros, os quatro que escrevi de reflexões pessoais e do meu tempo que, atualmente não têm muita incidência, sejam vistos como fonte de um depoimento e pensamento de uma época. A gente vira pó. Eu não vou ver isso e, talvez, essa esperança seja fugaz."

Em nota, a Fundação FHC disse que Boris foi pioneiro nos estudos sociais e um dos maiores historiadores do Brasil. O historiador Leandro Karnal também lamentou. "Eu o conheci bastante. Tinha uma memória notável, extraordinária e era um grande narrador de histórias. Sentiremos muita falta do Boris." O velório será hoje na Funeral Home, na Rua São Carlos do Pinhal, em São Paulo.

 


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