O presidente da Associação dos Familiares das Vítimas do Voo 447, Nelson Faria Marinho, declarou nesta segunda-feira (17/4) que a decisão da Justiça francesa de absolver as empresas Airbus e Air France pela tragédia é "absurda", e que "a França não é séria". Nelson perdeu o filho, de 40 anos, na queda do avião ocorrida em julho de 2009.
"(A decisão) Foi o que eu não esperava. Eu esperava que eles se espelhassem na Boeing americana, que são muito mais sérios. O 737 Max decidiram que ele não sairia do solo enquanto não resolvessem o problema", afirmou Nelson ao Correio. "Só culpam o piloto, que não tem culpa de nada. O problema foi só no mecanismo mesmo, eu posso te afirmar isso. Mas a decisão deles (da Justiça francesa) foi absurda", acrescentou.
- Após 14 anos, Justiça francesa absolve Airbus e Air France por acidente do voo Rio-Paris
- 'Tentamos de tudo', repetiram pilotos antes de avião da Air France cair em 2009
- Julgamento da tragédia do voo Rio-Paris em 2009 começa na França
O presidente da associação de familiares destacou que o filho, Nelson Marinho, foi criado em Brasília, e ressaltou que já morou no Gama, na 203 Sul, no Guará 1, Guará 2 e Lago Norte.
Para Nelson, os juízes franceses são parciais, já que são pagos pelo governo do país que sedia ambas as empresas. A Airbus foi formada em conjunto por várias empresas europeias, e a Air France foi fundada na França. Ele comparou com situação das empresas francesas com a da Boeing, americana, que concordou em pagar indenizações de US$ 2,5 bilhões pela queda de dois aviões modelo 737 Max. "Os americanos foram muito responsáveis, e os franceses, muito irresponsáveis", avaliou.
"Agora eu quero rebater a frase do Charles de Gaulle (ex-presidente da França), que disse que 'o Brasil não é sério'", enfatizou Nelson. "A França não é séria. Ela está contradizendo toda aquela revolução da Bastilha, e eles são altamente capitalistas. Eles estão botando o dinheiro à frente da vida das pessoas", completou.
"Sem causalidade"
O tribunal de Paris absolveu, nesta segunda, a Airbus e a AirFrance após 14 anos da tragédia. Segundo a corte, embora tenham cometido "falhas", não foi possível demonstrar "nenhuma relação de causalidade" com a queda da aeronave.
O vôo Air France 447 caiu na noite de 1º de junho de 2009, no Oceano Atlântico, horas após decolar do Rio de Janeiro em direção a Paris. Os 216 passageiros e 12 tripulantes morreram, incluindo 58 brasileiros. Ao todo, o Airbus A330 levava pessoas de 33 nacionalidades.
"O primeiro defeito foi o do radar, que detecta tempestades, e eles seguiram em frente. Todos os aviões desviaram daquela tempestade, só o Air France foi em frente. Depois, o sensor pitot congelou, e o avião foi para o chão", explicou Nelson. "Almoçando com 80 pilotos do mundo inteiro, todos falaram a mesma coisa, que o avião tem defeito. Quando atinge o computador de bordo, ele cai", acrescentou.
Questionado sobre o que a associação fará quanto à decisão da Justiça francesa, Nelson respondeu que ainda não sabe se caberá recurso contra a decisão. "Se houver, com certeza vamos recorrer. Todas as associações de familiares vão, a nossa, a francesa, a da Alemanha", frisou.
Saiba Mais
Notícias pelo celular
Receba direto no celular as notícias mais recentes publicadas pelo Correio Braziliense. É de graça. Clique aqui e participe da comunidade do Correio, uma das inovações lançadas pelo WhatsApp.
Dê a sua opinião
O Correio tem um espaço na edição impressa para publicar a opinião dos leitores. As mensagens devem ter, no máximo, 10 linhas e incluir nome, endereço e telefone para o e-mail sredat.df@dabr.com.br.