Tragédia aérea

"A França não é séria", diz presidente de familiares das vítimas do voo 447

Presidente da Associação dos Familiares das Vítimas do Voo 447, Nelson Faria Marinho, criticou a decisão da Justiça francesa de absolver, nesta segunda (17/4), as empresas Airbus e Air France pela queda do avião que matou seu filho e outras 227 pessoas em 2009

Victor Correia
postado em 17/04/2023 12:22 / atualizado em 17/04/2023 13:07
Nelson Marinho Filho, uma das 228 vítimas da queda do voo Air France 447, em 2009, no trajeto entre Rio de Janeiro e Paris -  (crédito: Arquivo Pessoal)
Nelson Marinho Filho, uma das 228 vítimas da queda do voo Air France 447, em 2009, no trajeto entre Rio de Janeiro e Paris - (crédito: Arquivo Pessoal)

O presidente da Associação dos Familiares das Vítimas do Voo 447, Nelson Faria Marinho, declarou nesta segunda-feira (17/4) que a decisão da Justiça francesa de absolver as empresas Airbus e Air France pela tragédia é "absurda", e que "a França não é séria". Nelson perdeu o filho, de 40 anos, na queda do avião ocorrida em julho de 2009.

"(A decisão) Foi o que eu não esperava. Eu esperava que eles se espelhassem na Boeing americana, que são muito mais sérios. O 737 Max decidiram que ele não sairia do solo enquanto não resolvessem o problema", afirmou Nelson ao Correio. "Só culpam o piloto, que não tem culpa de nada. O problema foi só no mecanismo mesmo, eu posso te afirmar isso. Mas a decisão deles (da Justiça francesa) foi absurda", acrescentou.

O presidente da associação de familiares destacou que o filho, Nelson Marinho, foi criado em Brasília, e ressaltou que já morou no Gama, na 203 Sul, no Guará 1, Guará 2 e Lago Norte. 

  • Nelson Marinho Filho, uma das 228 vítimas da queda do voo Air France 447, em 2009, no trajeto entre Rio de Janeiro e Paris Arquivo Pessoal
  • Nelson Marinho Filho, uma das 228 vítimas da queda do voo Air France 447, em 2009, no trajeto entre Rio de Janeiro e Paris Arquivo Pessoal
  • (FILES) In this file handout picture released on June 8, 2009 by the Brazilian Navy shows divers recovering a huge part of the rudder of the Air France A330 aircraft, flight number 0447 from Rio to Paris, that crashed on June 1, 2009 while in midflight over the Atlantic ocean. The French public prosecutor's office requested a trial for "involuntary homicides" against Air France and Airbus in the crash of a Rio-Paris plane which left 228 people dead in 2009, unlike the investigating judges who had pronounced a dismissal in 2019, the AFP learned on January 27, 2021 from a judicial source. - RESTRICTED TO EDITORIAL USE - MANDATORY CREDIT "AFP PHOTO / BRAZILIAN NAVY " - NO MARKETING - NO ADVERTISING CAMPAIGNS - DISTRIBUTED AS A SERVICE TO CLIENTS / AFP / BRAZILIAN NAVY / - / RESTRICTED TO EDITORIAL USE - MANDATORY CREDIT "AFP PHOTO / BRAZILIAN NAVY " - NO MARKETING - NO ADVERTISING CAMPAIGNS - DISTRIBUTED AS A SERVICE TO CLIENTS -

Para Nelson, os juízes franceses são parciais, já que são pagos pelo governo do país que sedia ambas as empresas. A Airbus foi formada em conjunto por várias empresas europeias, e a Air France foi fundada na França. Ele comparou com situação das empresas francesas com a da Boeing, americana, que concordou em pagar indenizações de US$ 2,5 bilhões pela queda de dois aviões modelo 737 Max. "Os americanos foram muito responsáveis, e os franceses, muito irresponsáveis", avaliou.

"Agora eu quero rebater a frase do Charles de Gaulle (ex-presidente da França), que disse que 'o Brasil não é sério'", enfatizou Nelson. "A França não é séria. Ela está contradizendo toda aquela revolução da Bastilha, e eles são altamente capitalistas. Eles estão botando o dinheiro à frente da vida das pessoas", completou.

"Sem causalidade"

O tribunal de Paris absolveu, nesta segunda, a Airbus e a AirFrance após 14 anos da tragédia. Segundo a corte, embora tenham cometido "falhas", não foi possível demonstrar "nenhuma relação de causalidade" com a queda da aeronave.

O vôo Air France 447 caiu na noite de 1º de junho de 2009, no Oceano Atlântico, horas após decolar do Rio de Janeiro em direção a Paris. Os 216 passageiros e 12 tripulantes morreram, incluindo 58 brasileiros. Ao todo, o Airbus A330 levava pessoas de 33 nacionalidades.

"O primeiro defeito foi o do radar, que detecta tempestades, e eles seguiram em frente. Todos os aviões desviaram daquela tempestade, só o Air France foi em frente. Depois, o sensor pitot congelou, e o avião foi para o chão", explicou Nelson. "Almoçando com 80 pilotos do mundo inteiro, todos falaram a mesma coisa, que o avião tem defeito. Quando atinge o computador de bordo, ele cai", acrescentou.

Questionado sobre o que a associação fará quanto à decisão da Justiça francesa, Nelson respondeu que ainda não sabe se caberá recurso contra a decisão. "Se houver, com certeza vamos recorrer. Todas as associações de familiares vão, a nossa, a francesa, a da Alemanha", frisou.

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