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Feira no Museu da República abre espaço para cultura indígena

Cerca de 200 indígenas de dezenas de etnias do Brasil participam neste fim de semana da 13ª edição da feira de artesanato indígena, de apresentações de cantos e danças rituais, de pintura corporal, de oficinas de arte e de contação de histórias

Agência Brasil
postado em 15/04/2023 20:09 / atualizado em 15/04/2023 20:09
 (crédito:  Tomaz Silva/Ag..ncia Brasil)
(crédito: Tomaz Silva/Ag..ncia Brasil)

Cerca de 200 indígenas de dezenas de etnias do Brasil participam neste fim de semana da 13ª edição da feira de artesanato indígena, de apresentações de cantos e danças rituais, de pintura corporal, de oficinas de arte e de contação de histórias. A programação inclui ainda a exibição de filmes, um espaço de ervas medicinais e a realização de palestras e debates para discutir questões indígenas. Pela primeira vez o evento ocorre nos jardins do Museu da República, no Catete, zona sul do Rio. Até o ano passado, o local era o Parque Lage, no bairro do Jardim Botânico, também na zona sul do Rio. O horário de funcionamento é das 9h às 17h30 e a entrada é franca para todas as idades.

A feira com 90 barracas de expositores é organizada pela Associação Indígena Aldeia Maracanã (AIAM), com o apoio institucional do Museu da República e do Instituto Brasileiro de Museus (Ibram). O evento celebra também o Dia dos Povos indígenas, nome aprovado no ano passado no Congresso Nacional por iniciativa da então deputada federal Joênia Wapichana para o antigo Dia do Índio, comemorado em 19 de abril.

Participam os povos indígenas Guarani, Pataxó, Puri, Fulni-ô, Tukano, Kaingang, Guajajara, Ashaninka, Tikuna, Tupinambá, Baniwa, Waurá, Kamayurá, Kayapó, Mehinako, Pankararu, Kariri-Xocó, Karajá, Potiguara, Sateré Mawé, Bororo, Kadiwéu, Kambeba, Ananbé, Kichua e Goitacá.

A presidente da Associação Indígena Aldeia Maracanã (AIAM), Marize Guarani, destacou que esta é a primeira edição que ocorre com a existência do Ministério dos Povos Indígenas (MPI), e a criação da pasta chama atenção da população brasileira para a presença desses povos no Brasil. "Todos esses séculos nós vivemos aqui invisíveis, negados, silenciados. Neste censo, já sabemos que passamos de 865 mil para quase 1,7 milhão, mas a gente ainda não sabe qual é o percentual que temos no contexto urbano, agora. No Censo de 2010, nós éramos quase 40% da população. Completamente negados, onde mesmo sendo território indígena, porque todo o Brasil é território indígena", disse à Agência Brasil.

Marize Guarani lembrou ainda que no português falado no Brasil há muitas palavras em tupi-guarani e muita gente nem se dá conta. Como exemplo, citou os bairros da capital fluminense, de Niterói e de distrito e cidade da região metropolitana do Rio.

"Você sabe o que é Ipanema? O que é Jacarepaguá? Sabe o que quer dizer Tijuca, Grajaú, Itaipuaçu, Maricá? Tem uma série de palavras no tronco tupi-guarani que as pessoas falam. Eu nasci onde hoje é um bairro, mas era território indígena. Nasci em Turiaçu, hoje é um bairro que fica entre Madureira e Rocha Miranda. Acha que alguém pode dizer que aquele não foi um território indígena com o nome de Turiaçu? O nosso português não é igual a qualquer português falado no mundo", afirmou, revelando que atualmente há 305 povos indígenas no Brasil, número bem abaixo dos 1,4 mil que existiam anteriormente.

"O que aconteceu aqui foi um genocídio sem tamanho e também não falamos sobre isso. Também não falamos que, quando você perde o seu território, acaba vindo para as cidades, que foram construídas com mão de obra indígena. As cidades são verdadeiros cemitérios onde você enterra territórios indígenas, línguas e povos indígenas, a cidade do Rio de Janeiro se constrói a partir do genocídio do povo tupinambá que vivia aqui. E quem conta esta história?", indagou.

A Associação Indígena Aldeia Maracanã reúne integrantes de várias etnias que vivem em contexto urbano no Grande Rio e também das oito aldeias Guarani e Pataxó que existem nos municípios de Paraty, Angra dos Reis e Maricá.

Indigenista da AIAM, Toni Lotar, que é também um dos organizadores do evento, disse que este ano é muito especial para os povos indígenas, porque além da criação do ministério, terminou o mandato do governo anterior que, segundo ele, não desenvolvia políticas específicas para esses povos. "Nesse encontro aqui vai rolar muita energia positiva. Eles estão muito satisfeitos com o novo cenário que se estabeleceu no Brasil em relação a eles e ao meio ambiente. Além disso, é uma oportunidade do Rio de Janeiro de conhecer a cultura indígena", completou.

O indigenista disse que a expectativa é receber 10 mil pessoas nos dois dias e isso é uma oportunidade de geração de renda para os expositores indígenas. "Todos os povos indígenas têm na produção e venda de artesanato o seu principal fator de renda. Então em um evento como esse com 90 barracas eles conseguem vender os seus artesanatos e levar dinheiro para as suas comunidades", observou.

Conforme a programação, o filme deste sábado (15) é o curta-metragem Abya Yala, na sequência haverá debate sobre a questão dos indígenas em contexto urbano. Amanhã haverá a exibição do curta-metragem A Saga da Aldeia Maracanã, seguida de uma mesa de debate sobre as origens, conquistas e luta atual do movimento indígena, que em 2006 fez a ocupação cultural do prédio do antigo Museu do Índio, ao lado do estádio do Maracanã. O evento está lançando a campanha Restauro Já, para cobrar do governo do estado a promessa de restaurar o prédio do antigo espaço que foi tombado em 2013 pelo Instituto Estadual do Patrimônio Cultural (Inepac) e pelo Instituto Rio Patrimônio da Humanidade (IRPH), para inaugurar no local o Centro de Referência da Cultura Viva dos Povos Indígenas, aberto aos 305 povos indígenas que existem no Brasil.

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