A Associação Yanomami do Rio Cauaburis e Afluentes (Ayrca) é frontalmente contrária a que a comissão temporária externa do Senado, que acompanha a crise humanitária que atinge a etnia, visite a terra ianomâmi. A ida está marcada para a segunda semana de abril. Para os líderes da comunidade, o colegiado é formado, na maioria, por parlamentares ligados ao garimpo ilegal, responsável pelo cenário de violência, desnutrição e morte entre os indígenas.
Segundo a Ayrca, para entrada na área é necessário que haja autorização do fórum de lideranças — que não está disposto a permitir que os parlamentares façam a visita. A posição da associação se une à rejeição manifestada pela associação yanomami Urihi, que criticou a ida do senador Chico Rodrigues (PSB-RR), presidente da Comissão, à reserva, em fevereiro. Ele esteve na terra ianomâmi sem autorização das lideranças e do governo federal, a pretexto de ver de perto as condições da etnia.
De acordo com a Uhiri, a presença de Rodrigues foi considerada "indesejada e desrespeitosa". "Não aceitaremos a presença desses transgressores dentro do nosso território sagrado. Nosso protocolo deve ser consultado e respeitado, mediante ações, decisões e visitas que podem afetar os direitos da população Yanomami", afirmou.
Para a Urihi, a ida do presidente da comissão só serviu para assustar a população nativa, pois as lideranças indígenas consideram Rodrigues "um contumaz defensor dos garimpeiros, que tanto mal fizeram" ao povo ianomâmi. Inclusive, a Urihi moveu uma ação no Supremo Tribunal Federal (STF) para impedir que garimpeiros ilegais sejam ouvidos pelos senadores da comissão.
Os advogados da associação — que representa 150 comunidades — consideram que a finalidade da comissão "se perde ao aceitar a visão dos garimpeiros" sobre o território indígena. A Uhiri acusa o colegiado de senadores de não querer acompanhar a crise humanitária entre os ianomâmi, mas sim de defender os exploradores ilegais e a permanência deles na reserva, para que continuem com a lavra predatória.
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Confronto
Apesar da presença de agentes do governo federal, os garimpeiros não se intimidam com as operações repressivas contra a exploração ilegal de ouro e cassiterita. Ontem, os invasores receberam a tiros funcionários do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) e policiais rodoviários federais na terra ianomâmi. Episódios como este estão sendo recorrentes e, segundo relatos, em março houve confronto armado pelo menos duas vezes.
A troca de tiros não deixou feridos, mas uma bala atingiu um dos helicópteros usados pelos agentes na ação repressiva. "A falta de controle do espaço aéreo e a livre atuação de aeronaves clandestinas dentro da terra indígena ianomâmi estão comprometendo a efetividade e aumentando os riscos das ações realizadas", alerta a nota do Ibama.
*Estagiária sob a supervisão de Fabio Grecchi
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