A Pesquisa Nacional de Aborto 2021 (PNA 2021), conduzida por pesquisadores da Universidade de Brasília (UnB) em colaboração com a Universidade Estadual do Piauí e a Columbia University, descobriu que, em 52% dos casos, o primeiro aborto ocorreu ainda na adolescência, com 19 anos ou menos. Mais de um quinto (21%) interrompeu a gravidez mais de uma vez na vida, sendo em 74% dos casos, mulheres negras.
Ao todo, 67% das entrevistadas teve o último aborto realizado no intervalo de idade entre os 20 aos 39 anos.
Essas são informações inéditas, já que nenhum outro levantamento buscou o recorte sobre o número total de abortos realizado durante a vida reprodutiva das mulheres. Foram ouvidas aproximadamente duas mil mulheres, de área urbana.
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“Esse dado revela um subgrupo de mulheres que se deparam com níveis mais altos de vulnerabilidade em suas vidas reprodutivas e que provavelmente estão expostas ao aumento de resultados negativos na saúde”, explica um trecho da pesquisa.
Apesar disso, a pesquisa também revelou que existe um declínio no número de mulheres que tomariam a decisão de realizar um aborto durante a vida — em 2010, 15% confirmaram; em 2018, esse número caiu para 13%; e em 2021, foram 10%. Da mesma forma, ocorreu um declínio global de gravidezes indesejadas, assim como a tendência de uso de contraceptivos reversíveis ou de longa duração.
No entanto, no Brasil, continuam altas as porcentagem de mulheres que não planejaram engravidar, são duas a cada três mulheres que estão nessa situação. Também há disparidade entre mulheres mais jovens, pobres, com níveis de escolaridade mais baixos, indígenas e residentes de áreas rurais no uso de contraceptivos.
O levantamento mostrou, ainda, que diminuiu o uso de medicamentos para estimular a expulsão do feto, de hospitalizações e internações em decorrência de alguma complicação do aborto.
Isso pode estar relacionado à escolha, sobretudo de mulheres de classes média e alta, de realizar o procedimento em consultórios. Outro fator pode ser a diminuição da capacidade dos hospitais em disponibilizar leitos por causa da pandemia do covid-19.
"Ao longo dos últimos 11 anos (2010-2021), evidências mostram que o aborto permanece um evento comum na vida de mulheres e um problema de larga escala na saúde pública do país", esclarece a pesquisa.