O Observatório do Clima, que comemora 21 anos de atuação na área ambiental nesta semana, atestou nesta quinta-feira (23/3) que as emissões brasileiras de gases de efeito estufa cresceram 40% desde 2010, ano em que o país decidiu tomar uma atitude para combatê-las. As informações são da análise das emissões de gases de efeito estufa e suas implicações para as metas climáticas do Brasil, feita em um período de 1970 a 2021 pelo Observatório, divulgada na manhã desta quinta.
Em 2010, quando o país regulamentou a Política Nacional sobre Mudança do Clima, a PNMC, as emissões brutas de gases de efeito estufa eram de 1,7 bilhão de toneladas. Em 2021, ano da última estimativa do Sistema de Estimativas de Emissões e Remoções de Gases de Efeito Estufa (SEEG), eram 2,4 bilhões.
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A PNMC oficializa o compromisso voluntário do Brasil junto à Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima de redução de emissões de gases de efeito estufa entre 36,1% e 38,9% das emissões. O objetivo era projetado até 2020.
“Esses números indicam que, embora a PNMC tenha produzido inovações importantes no ordenamento legal brasileiro e criado instrumentos para mensuração de emissões e combate à mudança do clima, do ponto de vista da atmosfera, a década de 2010 foi perdida para o Brasil", afirma o documento do Observatório.
Desmatamento é o pior culpado pelo aumento na emissão de gases estufa
A maior parte da culpa é do desmatamento. O Brasil passou longe de cumprir a principal meta da PNMC, de reduzir em 80% a taxa de destruição da Amazônia. Ao contrário, em 2022 o desmatamento era quase três vezes maior do que os 3.925 km² preconizados pela meta. Em 2021, as emissões brutas por desmatamento em todos os biomas brasileiros haviam atingido 1,19 bilhão de toneladas de gás carbônico equivalente (CO2e). É mais do que o Japão emite em um ano. Em relação a 2010, as emissões por mudança de uso da terra cresceram 83% no Brasil.
As emissões líquidas, quando se desconta o carbono removido por florestas secundárias e por áreas protegidas, cresceram ainda mais: 55%, de 1,3 bilhão para 1,7 bilhão de toneladas. Isso indica o descontrole do desmatamento e o aumento da devastação em unidades de conservação e terras indígenas, em especial nos últimos anos. Ou seja, o “ralo” natural de carbono do Brasil está menos eficiente por culpa das motosserras.
Mas todos os setores da economia aumentaram suas emissões: a alta bruta foi de 31% em resíduos (principalmente lixo e esgoto), 13% em processos industriais e uso de produtos, 17% em energia e 12% em agropecuária entre 2010 e 2021.
Relatório coloca agropecuária como principal vetor poluente
As emissões brutas de gases de efeito estufa do Brasil foram de 2,4 bilhões de toneladas de gás carbônico equivalente só em 2021. O crescimento foi de 12,2% em relação ao ano anterior, quando o país emitiu 2,1 bilhões de toneladas de CO2e. A agropecuária foi colocada como o principal vetor poluente no país. Só em 2021, as emissões deste setor foram as mais altas da série histórica: 601 milhões de toneladas de CO2 equivalente, um aumento de 3,8% em relação a 2020.
A pecuária coloca a Amazônia em posição de destaque quanto às emissões de gases de efeito estufa. Em 2021, as emissões brutas do bioma foram quase oito vezes maiores do que as do Cerrado, o segundo bioma que mais emitiu, em razão da maior área desmatada e do maior estoque de carbono nas florestas.
*Estagiária sob a supervisão de Victor Correia