A vida de Raimunda Souza de Almeida Carmo mudou em 2018, quando ela começou a sentir fortes dores nas pernas. Na época, achava que eram provenientes do trabalho. Pouco tempo depois, reparou o aparecimento de manchas na pele e muita fraqueza.
Moradora de Andrelândia, na Zona da Mata Mineira, Duda, como é conhecida, buscou atendimento médico em Juiz de Fora. Após uma série de exames, recebeu o diagnóstico de aplasia medular, uma doença na medula óssea e que prejudica a circulação sanguínea.
“Fiquei muito assustada e comecei a procurar ajuda médica. A pandemia atrapalhou, estive muito mal, tentei todo tipo de medicação, fiquei quatro meses de cama, não comia nem consegui tomar água, não levantava, nem conseguia falar, achei que ia morrer. Minha família chegou a ser chamada, e os médicos disseram que não poderiam fazer mais nada por mim”, relatou Duda.
Após diversos tratamentos, a mineira teve uma melhora no quadro clínico e foi transferida para o Hospital Universitário da Universidade Federal de Juiz de Fora (HU-UFJF). Duas vezes por semana, recebia medicação e transfusão de sangue.
Medula na Inglaterra
Em uma conversa com os médicos, disseram para a Duda que a melhor solução para a doença era fazer o transplante de medula óssea. A mineira aceitou a sugestão, mas esbarrou em dois problemas: nenhum parente tinha medula compatível, e não havia o órgão compatível no banco nacional.
Com isso, a equipe do HU precisou expandir as fronteiras e procurar por uma medula compatível em bancos localizados no exterior. E foi na Inglaterra que estava o órgão que Duda tanto precisava.
“Fiquei muito feliz, aguardando. Com muita fé, eu recebi essas células. Era muito arriscado, no entanto. Poderia morrer, mas lutando. Fiz o transplante, e logo minha medula ‘pegou’. Só tenho a agradecer toda essa equipe, à enfermagem, aos médicos, e a gente é muito bem cuidada aqui, muito bem amparada. Foi um milagre, mas milagres acontecem”, disse Duda.
Processo de vinda da medula
No Brasil, há o Registro Brasileiro de Doadores Voluntários de Medula Óssea (Redome), pertencente ao Ministério da Saúde e fomentado com recursos públicos. É por meio do Redome que se faz uma articulação, a nível internacional, para encontrar medulas compatíveis com os pacientes.
“O transplante [da Duda] foi um sucesso, e a recuperação, ótima, apesar de inúmeras intercorrências e novas internações”, explicou o médico hematologista Abrahão Hallack, do serviço de transplante de medula óssea (TMO) do HU.
O transplante feito em Duda foi o primeiro pelo HU-UFJF, em que o doador não era alguém da família. “O Hospital Universitário tem um diferencial nesses casos, sendo um centro de referência para transplante de medula óssea pelo Sistema Único de Saúde, recebendo pacientes de vários estados”, explicou Hallack.
“Ações como a desse transplante, além de demonstrar a excelência na assistência, é de grande importância na formação de nossos alunos e residentes e abre espaços importantes para nossos pesquisadores”, ressaltou o superintendente do HU, Dimas Araújo.
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