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Mentiras e descuido são responsáveis por vacinas estragadas, avaliam especialistas

Especialistas apontam que falhas na cadeia de logística e armazenamento, além do impacto das campanhas de desinformação junto a parcela da população, como razões para imunizantes irem para o lixo. Prejuízo para os cofres públicos chega a R$ 2 bi

Com quase 39 milhões de vacinas contra a covid-19 vencidas no Brasil, o governo federal ainda busca solução para 5 milhões de doses, que vencem nos próximos três meses, e outras 15 milhões que ficarão fora do prazo em aproximadamente seis meses. Os custos desses medicamentos jogados fora chegam a R$ 2 bilhões.

Na avaliação de especialistas ouvidos pelo Correio, uma junção de fatores leva às falhas no controle da validade dos medicamentos — que vão desde a desídia administrativa, sonegação de dados durante o período de transição de governo e até campanhas repletas de informações falsas e desinformações, que desencorajam a população a se vacinar. Sobre esse último fator, a atual gestão do Ministério da Saúde lançou, semanas atrás, o Movimento Nacional pela Vacinação — propagandas que reúnem atores, cantores cientistas e influenciadores chamando a atenção da população para a necessidade da imunização, desestimulada durante o governo Bolsonaro.

Mas, para o infectologista e ex-secretário de Saúde de São Paulo, Jean Gorinchteyn, a principal falha que levou à perda de validade das vacinas veio "de baixo" — dos responsáveis por tomar conta dos estoques e dos almoxarifados. Ao Correio, disse que tanto o ex-ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, quanto a atual, Nísia Trindade, não tem relação direta com o problema.

"Os almoxarifados e não o grande gestor, o ministro, deveriam ter a responsabilidade de checar a validade e comunicar à chefia imediata que essas doses perto de vencer fossem rapidamente colocadas nos postos para vacinação. Alguém falhou na hora de sinalizar", desconfia.

O ex-secretário avalia, ainda, que pode ter havido uma desorganização que levou à inversão dos estoques — ou seja, as mais antigas continuaram guardadas e as mais novas distribuídas a estados e municípios. "É fundamental a gente se ater às validades das vacinas, isso é fundamental como vacinas, medicamentos. As que estão mais perto de vencer não podem ser estocadas, devem ser colocadas na ponta para o município aplicar. Infelizmente, 39 milhões de doses foram perdidas", lamentou.

Desestímulo

O infectologista Hemerson Luz também entende que houve uma soma de problemas, logísticos e de armazenamento. Lembra que apesar de o Brasil ser uma referência no assunto, a distribuição de vacinas é complexa. Para ele, o desestímulo à imunização por campanhas de desinformação e mentiras nas redes sociais também levou as doses a estragarem.

"Ocorreu uma sucessão de falhas, mas tem a questão de parte da população não aderir à vacinação. Sabemos que há pessoas com medo por conta das fake news. Isso tem impacto", acusa.

Para tentar evitar uma perda maior dessas doses contra a covid-19, o governo brasileiro estuda doá-las a outros países. O Ministério da Saúde também busca um acordo com os conselhos de secretários Estaduais e Municipais de Saúde — Conas e Conasems — para fecharem um esforço conjunto que evite novos desperdícios.

Só em 2023 venceram mais de 27 milhões de doses até 28 de fevereiro. No ano passado, a quantidade de vacinas jogadas no lixo foi de 9,9 milhões. Em 2021, aproximadamente 2 milhões de imunizantes também perderam a validade.

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