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Violência

Menina atingida por bala perdida enquanto dormia corre risco de perder perna

Socorrida e submetida a uma cirurgia, Maria Júlia da Silva Gomes corria o risco de ter de amputar a perna esquerda, na qual a bala ficou alojada.

Uma menina de 1 ano e 8 meses foi atingida nas duas pernas por uma bala perdida, enquanto dormia ao lado dos pais em sua casa na Ladeira dos Tabajaras, favela localizada em Copacabana, na zona sul do Rio, às 5h desta sexta-feira, 10. A casa fica em frente a uma base da Unidade de Polícia Pacificadora (UPP).

Socorrida e submetida a uma cirurgia, Maria Júlia da Silva Gomes corria o risco de ter de amputar a perna esquerda, na qual a bala ficou alojada. No fim da tarde de ontem, estava "em estado estável em leito intermediário", segundo boletim médico, e com riscos reduzidos de perder a perna, segundo a família, devido ao sucesso da cirurgia. O autor do tiro que atingiu a criança não foi localizado. Desde a madrugada a Polícia Militar fazia uma operação na favela, o que ocasionou disparos durante confrontos entre policiais e criminosos.

O pai de Maria Júlia, o mototaxista Julio Cesar Pereira Gomes, de 30 anos, contou à imprensa que ele, a mulher e a filha dormiam no mesmo quarto, por volta das 5h, quando a bala atravessou a janela do quarto e atingiu primeiro a perna direita da filha, na altura do joelho, e depois a perna esquerda dela, ficando alojada na coxa. "Ela não entendia nada e só chorava, enquanto o sangue jorrava. Minha reação foi enrolar minha filha numa toalha e levar para a UPA", afirmou.

Na Unidade de Pronto Atendimento de Copacabana, os médicos constataram que a bala rompeu uma artéria e atingiu o fêmur esquerdo da perna esquerda de Maria Júlia. A criança recebeu os primeiros socorros na UPA e ainda pela manhã foi transferida para o hospital municipal Miguel Couto, na Gávea (zona sul).

Às 17h45 de sexta-feira, a secretaria municipal de Saúde do Rio de Janeiro informou ao Estadão que "a criança passou por cirurgia e encontra-se em estado estável em leito intermediário". A mãe de Maria Júlia, Amanda Carolina, de 29 anos, afirmou à imprensa que a cirurgia foi bem sucedida. "A médica falou que depois da cirurgia pode haver algumas complicações. Pode ser que inche e esse inchaço pode comprometer a circulação sanguínea, mas as chances (de amputação) são pequenas. Graças a Deus está tudo dentro do esperado e sob controle", disse. Segundo ela, a equipe médica retirou a bala e usou uma parte da veia safena para restabelecer a circulação sanguínea. A perna não foi engessada para não haver risco de comprometer essa circulação.

O casal têm outros três filhos, o mais velho com 8 anos. Eles dormiam no outro quarto da casa e não foram atingidos. Gomes afirmou que imaginava estar mais seguro por morar em frente à UPP da Ladeira dos Tabajaras. "A gente vê essas notícias diariamente na imprensa, mas nunca acha que vai acontecer conosco. E, infelizmente, acontece e minha filha entrou para a estatística", disse.

Operação policial

Segundo a PM, uma operação foi realizada desde a madrugada de sexta-feira pela Coordenadoria de Polícia Pacificadora (CPP) e pela Unidade de Polícia Pacificadora (UPP) na Ladeira dos Tabajaras e no vizinho morro dos Cabritos. Durante a ação, "o veículo blindado estava em deslocamento pela comunidade e indivíduos armados fizeram disparos de arma de fogo contra as equipes policiais. Uma das bases da UPP também sofreu ataques criminosos". A corporação afirma que os policiais não revidaram.

Segundo a plataforma Fogo Cruzado, Maria Júlia foi a nona criança atingida por bala perdida na Região Metropolitana do Rio neste ano. Três morreram e seis sobreviveram. Em todo o ano passado, oito crianças haviam sido baleadas. No mesmo período do ano passado (de 1 de janeiro a 10 de março), duas crianças foram atingidas por balas perdidas - uma delas morreu.

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